Com Helen Mirren e Ian McKellen, thriller criminal enigmático é tesouro na Max Divulgação / BRON Studios

Com Helen Mirren e Ian McKellen, thriller criminal enigmático é tesouro na Max

O jogo da ilusão sustenta “A Grande Mentira” (2019), conduzido por performances magnéticas de Ian McKellen e Helen Mirren. O filme mergulha na arte do embuste, acompanhando um vigarista que mira uma viúva rica para seu golpe meticulosamente planejado. A trama, aparentemente convencional dentro do gênero, encontra força na forma como manipula expectativas e esconde armadilhas narrativas sob uma superfície enganadoramente previsível.

A tensão se constrói em torno da dinâmica entre os protagonistas. McKellen encarna um trapaceiro cuja sofisticação e astúcia remetem aos clássicos vigaristas do cinema, enquanto Mirren oferece uma interpretação multifacetada que desafia a aparente fragilidade de sua personagem. Entre ambos, Russell Tovey, no papel do neto desconfiado, adiciona uma camada de inquietação à narrativa, servindo como contraponto às intenções ambíguas do protagonista. O roteiro, apesar de seus altos e baixos, mantém a intriga ao dosar revelações e omissões de maneira estratégica.

O filme aposta em reviravoltas que subvertem a lógica tradicional do suspense, embora nem todas sejam eficazes. O clímax introduz um elemento inesperado que, ao invés de uma revelação cuidadosamente construída, soa abrupto e exige do espectador uma aceitação instantânea. Essa escolha arrisca enfraquecer a imersão ao reconfigurar drasticamente o sentido dos eventos anteriores sem a devida sustentação narrativa. Ainda assim, a condução da trama mantém um ritmo envolvente, e a execução técnica, aliada à direção segura de Bill Condon, confere solidez à experiência.

A dinâmica entre vigarista e vítima supera o mero jogo de manipulação financeira. Há um subtexto pulsante que sugere um embate de inteligências, onde as aparências enganam e os papéis se invertem a cada nova cena. McKellen e Mirren sustentam essa ambiguidade com atuações que valorizam a história, proporcionando aos seus personagens uma complexidade emocional que falta ao roteiro em alguns momentos. O golpe central, uma variação do clássico esquema do “Prisioneiro Espanhol”, reforça o tom de jogo psicológico que permeia toda a narrativa, envolvendo não apenas os personagens, mas também o espectador.

Mesmo sem revolucionar o gênero, “A Grande Mentira” entrega um thriller competente, sustentado por um elenco afiado e um jogo narrativo que, mesmo com falhas, mantém a atenção até o desfecho. O filme não apenas explora o prazer da trapaça, mas também questiona as consequências de viver dentro de uma mentira bem construída. O que realmente se destaca não é apenas a esperteza do golpe, mas a maneira como ele ressoa muito além do que aparenta à primeira vista.

Filme: A Grande Mentira
Diretor: Bill Condon
Ano: 2017
Gênero: Crime/Drama/Mistério/Thriller
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★