Comédia romântica no estilo de Jane Austen e “Bridgerton”, com Cate Blanchett, no Prime Video Divulgação / Pathé Pictures International

Comédia romântica no estilo de Jane Austen e “Bridgerton”, com Cate Blanchett, no Prime Video

Em uma época em que as comédias sofisticadas e os dramas de época frequentemente caem no esquecimento ou são reduzidos a simples entretenimento, a adaptação cinematográfica de “Um Marido Ideal”, baseada na peça de Oscar Wilde, não é apenas fiel à obra original, mas também transita habilidosamente entre o humor refinado e a crítica social astuta. O filme, que transporta o público à Londres da era edwardiana, apresenta Gertrude (Cate Blanchett), uma aristocrata apaixonada pelo marido Robert (Jeremy Northam), que, embora pareça ser o “marido ideal”, está prestes a ser desmascarado por uma antiga amiga, Laura (Julianne Moore).

Laura, conhecedora de um segredo que ameaça arruinar a carreira de Robert, lança mão de um jogo de chantagem para forçar o marido de Gertrude a apoiar uma polêmica proposta de investimento. Em meio ao dilema moral de seu esposo, Gertrude precisa confrontar uma verdade amarga, enquanto Lord Arthur (Rupert Everett), amigo de Robert, se vê enredado na tentativa de salvar a honra do amigo, mesmo enquanto enfrenta as investidas de mulheres que buscam sua atenção. 

A trama, repleta de trocas de poder e manipulações sutis, se desenrola com uma agilidade invejável, conduzida por um elenco excepcional. Cada ator oferece uma performance memorável, com destaque para a habilidade de Blanchett em equilibrar o amor incondicional de sua personagem e a crescente desconfiança em seu marido. Jeremy Northam, por sua vez, entrega a complexidade de Robert, um homem tentando preservar sua honra, enquanto se vê tragado por um segredo do passado que ameaça derrubar sua imagem de idealização.

A química entre os atores é inegável, e o trabalho de direção de Oliver Parker brilha ao adaptar a peça de Wilde para o cinema, sem perder a essência crítica e humorística que caracteriza o autor. A maneira como a adaptação lida com os diálogos — tão fundamentais em Wilde — é uma prova da maestria da transição do palco para a tela, mantendo a vivacidade e o tom irônico da obra original, sem torná-la excessivamente erudita ou inacessível ao público moderno.

O sucesso do filme não se limita apenas à sua adaptação técnica, mas também à forma como ele reflete questões universais sobre o amor, o poder e a integridade, temas que permanecem atemporais. Enquanto a trama pode ser situada em um contexto histórico específico, ela ressoa profundamente com o público contemporâneo, abordando dilemas morais que transcendem qualquer época. O contraste entre a modernidade do marketing e a tradição da peça, por exemplo, destaca um certo mal-entendido de como o público atual pode perceber um filme baseado em uma obra clássica.

A campanha promocional, com sua música rápida e cortes dinâmicos, tentava vender o filme como uma comédia leve, o que quase obscureceu a profundidade da obra e o impacto da história. Ao assistir ao filme, fica claro que a essência da obra de Wilde foi preservada, oferecendo ao espectador uma rica combinação de beleza visual, diálogos afiados e uma crítica social sutil, mas eficaz.

A experiência de assistir a “Um Marido Ideal” é uma jornada por um cenário social de reviravoltas emocionais e de decisões difíceis. As cenas, que poderiam facilmente cair na armadilha da superficialidade, são enriquecidas por um elenco afiado e um roteiro que é, ao mesmo tempo, inteligente e irresistivelmente engraçado.

A interatividade entre os personagens, especialmente em suas relações de poder e manipulação, leva o público a refletir sobre as próprias falhas da sociedade e sobre como os segredos e as mentiras podem corroer até mesmo as fundações mais sólidas. A adaptação cinematográfica, ao manter a estrutura essencial da peça, não só presta homenagem ao legado de Wilde, mas também realiza uma atualização que faz com que a história se sinta ainda mais relevante nos dias de hoje. 

O que se observa é uma obra que, mesmo nos dias modernos, mantém a mesma vitalidade e sagacidade que a tornou um clássico no teatro. O fato de o filme ser bem recebido pelo público, com risos e aplausos espontâneos em sua estreia, reflete a eficácia da adaptação e a continuidade da relevância da obra de Wilde. 

Filme: O Marido Ideal
Diretor: Oliver Parker
Ano: 1999
Gênero: Comédia/Romance
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★