Belíssimo romance épico com Joaquim Phoenix e Marion Cotillard que você precisa descobrir hoje no Prime Video Anne Joyce / Wild Bunch

Belíssimo romance épico com Joaquim Phoenix e Marion Cotillard que você precisa descobrir hoje no Prime Video

A imagem inicial de “Era uma Vez em Nova York” não poderia ser mais simbólica: a Estátua da Liberdade, erguida como um farol de esperança, logo se torna um espectro de ironia. Para os milhares de imigrantes que cruzavam o Atlântico em busca de uma nova vida, sua silhueta representava uma promessa; para Ewa Cybulska (Marion Cotillard), no entanto, ela se desmancha assim que o navio atraca. O filme de James Gray desmonta a mitologia do “sonho americano” com uma narrativa que substitui a ascensão heroica pela dureza de um destino marcado pela sobrevivência.

É 1921, e Ewa chega a Ellis Island ao lado da irmã, Magda (Angela Sarafyan), apenas para vê-la separada e colocada em quarentena devido a suspeitas de tuberculose. Sem dinheiro, sem apoio e sob o risco iminente de deportação, Ewa se torna presa fácil para Bruno (Joaquin Phoenix), um empresário de espetáculos burlescos que a protege — mas não sem cobrar um preço. A história que se desenrola não é apenas a de uma mulher lutando contra um sistema implacável, mas também a de uma personagem que recusa a submissão e transforma sua dor em resistência silenciosa. A prostituição, para Ewa, não é uma rendição, mas um meio para alcançar seu verdadeiro objetivo: libertar Magda. Cotillard entrega uma performance de nuances arrebatadoras, carregando nos olhos um misto de desespero e resiliência que transcende qualquer diálogo.

A relação entre Ewa e Bruno é um dos elementos mais instigantes do filme. Ele não é apenas um explorador cruel, nem tampouco um benfeitor torturado — é um homem consumido por sua própria hipocrisia, um agente de um sistema que ele também despreza, mas do qual não consegue escapar. Joaquin Phoenix constrói um personagem repleto de contradições, oscilando entre o oportunismo frio e momentos de uma fragilidade inesperada. A entrada de Emil (Jeremy Renner), primo de Bruno e ilusionista itinerante, adiciona uma camada ainda mais ambígua à trama. Ele surge como uma alternativa romântica, mas Gray evita qualquer simplificação melodramática: o triângulo que se forma não se baseia em um amor redentor, e sim em jogos de poder, desejo e desconfiança. Para Ewa, nem Bruno nem Emil representam salvação; são apenas variáveis em uma equação que ela precisa resolver para garantir sua própria sobrevivência.

“Era uma Vez em Nova York” é um triunfo de atmosfera. A fotografia de Darius Khondji envolve Nova York em uma paleta de tons ocres e sombrios, ressaltando a poeira, a degradação e a melancolia que permeiam a vida dos imigrantes. A cidade não é um espaço de oportunidades, mas um labirinto de miséria e exploração, onde os recém-chegados são jogados à própria sorte. A iluminação amarelada que banha Ewa em várias cenas reforça a sensação de que sua esperança se dissolve lentamente, assim como a promessa do novo mundo.

O desfecho é tão devastador quanto sutil. Quando Ewa finalmente conquista a possibilidade de seguir em frente, seu olhar não reflete vitória, mas um cansaço irreversível. James Gray constrói um final que recusa sentimentalismos fáceis e expõe a dura realidade: para muitos imigrantes, a liberdade nunca veio como um triunfo retumbante, mas como um fardo suportado em silêncio. “Era uma Vez em Nova York” não é apenas uma história sobre uma mulher tentando sobreviver; é um retrato brutal da dissonância entre o mito e a verdade da imigração, um conto de resistência e perda que ressoa muito além da tela.

Filme: Era Uma Vez em Nova York
Diretor: James Gray
Ano: 2013
Gênero: Drama/Romance
Avaliação: 9/10 1 1
★★★★★★★★★