Em “MaXXXine”, Ti West revisita os anos 1980 com um olhar metalinguístico e nostálgico, encerrando sua trilogia com uma imersão estilística nos slashers e no giallo italiano. No entanto, o longa se equilibra entre a homenagem e a repetição, sem conseguir imprimir a mesma força narrativa dos antecessores. Mia Goth reprisa sua Maxine Minx, agora determinada a consolidar sua presença na indústria cinematográfica, enquanto sombras do passado e uma ameaça iminente colocam sua ascensão em risco.
Diferente de “X — A Marca da Morte” e “Pearl”, que reinterpretavam convenções gênericas sem se limitar a elas, “MaXXXine” hesita entre a construção de uma identidade própria e o uso de fórmulas estabelecidas. Se “X— A Marca da Morte” evocava o horror setentista de forma crua e “Pearl” subvertia o melodrama tecnicolor, este capítulo final incorpora a estética neon-noir, mas sem um discurso sólido que justifique essa escolha. Elementos característicos do thriller urbano estão presentes — detetives corruptos, policiais caricatos, violência estilizada —, mas sua função dentro da trama parece mais decorativa do que essencial.
O impacto visual, sem dúvida, é um dos pontos altos. A fotografia de Eliot Rockett captura com precisão a decadência de Los Angeles, enquanto a trilha sonora sintetizada de Tyler Bates evoca os filmes de suspense da época. No entanto, a narrativa não acompanha esse refinamento estético. O suspense se dissipa na previsibilidade do roteiro, e o clímax, que deveria consolidar a tensão acumulada, não entrega o impacto esperado. O antagonista, peça crucial em qualquer slasher, carece de presença marcante, e a resolução de sua identidade se dá de forma anticlimática, sem uma reviravolta memorável.
Mia Goth continua a ser o centro gravitacional do filme, sustentando Maxine como uma personagem de fibra, determinada a se reinventar. Seu desempenho confere intensidade à protagonista, mas o mesmo não pode ser dito do elenco de apoio. Kevin Bacon se sobressai como um detetive inescrupuloso, mas outros nomes de peso, como Elizabeth Debicki, Giancarlo Esposito, Michelle Monaghan e Bobby Cannavale, acabam subutilizados em papéis pouco desenvolvidos. A falta de profundidade desses personagens secundários enfraquece a dinâmica do suspense e torna as mortes, elemento-chave do gênero, menos impactantes.
O maior dilema de “MaXXXine” está na sua tentativa de equilibrar homenagem e crítica. Se nos filmes anteriores West transitava com habilidade entre esses territórios, aqui a sátira se dilui na repetição dos mesmos clichês que pretende subverter. O longa se estrutura como uma carta de amor ao cinema de gênero, mas carece da ousadia necessária para transcender a mera citação. Como resultado, a narrativa oscila entre momentos de inteligência e sequências que se aproximam de uma releitura superficial da década retratada.
Mesmo com um visual sofisticado e um design de produção minucioso, “MaXXXine” não atinge o mesmo impacto de “X— A Marca da Morte” e “Pearl”. A promessa de um desfecho grandioso para a trilogia se revela menos expressiva do que o esperado. Ao tentar capturar a essência dos filmes que referência, West acaba se perdendo no brilho superficial da estética oitentista, sem aprofundar sua própria crítica. O resultado é um longa que entretém, mas não deixa a marca definitiva que Maxine e sua jornada pareciam prometer.
★★★★★★★★★★