Assane Diop não se encaixa nos estereótipos comuns. Sua história não é apenas sobre furtos engenhosos, mas sobre um ajuste de contas com o passado, um duelo contra um erro judicial que definiu sua vida. Filho de um motorista imigrante, carrega a dor de um crime nunca cometido, atribuído a seu pai e selado com um destino trágico. Passadas mais de duas décadas, Assane retorna ao tabuleiro movido pela vingança, guiado por um plano meticuloso e pela inspiração nas façanhas de Arsène Lupin. No centro da trama, um colar de pérolas e diamantes que, antes de se perder nas turbulências da Revolução Francesa, pertenceu a Maria Antonieta. Agora, sob a guarda do Louvre, a joia torna-se peça-chave de um elaborado jogo de manipulação e estratégia.
Sem pressa, ele tece sua rede, arquitetando cada passo com precisão milimétrica. O objeto de desejo, agora protegido por tecnologia de ponta, é mais do que uma relíquia: é um símbolo, uma prova de que o passado ainda pesa sobre o presente. Os cinco episódios da temporada inicial, lançada pela Netflix em 2021, mergulham em seu plano mirabolante, desdobrando-se em consequências imprevisíveis que envolvem reviravoltas, perseguições e reencontros repletos de revelações.
Para dar profundidade à jornada de Assane, os criadores George Kay e François Uzan investem em flashbacks que reconstroem sua juventude nas ruas de Paris. A imagem do garoto de catorze anos ao lado do pai, Babakar Diop, evoca a fragilidade de um destino já comprometido. Em um dia chuvoso, ambos socorrem Anne Pellegrini, cuja empatia superficial logo se dissolve diante do peso da injustiça. Interpretada por Nicole Garcia, sua personagem oscila entre a compaixão e a conivência silenciosa, incapaz de impedir que o marido, Hubert Pellegrini, condene um inocente. A consequência dessa omissão é brutal: Babakar, consumido pelo desespero da prisão, tira a própria vida. A cena do enterro, com um Assane adolescente enfrentando sozinho a frieza do mundo, sintetiza sua transformação definitiva. Ele deixa para trás a ingenuidade e abraça o cinismo necessário para operar no jogo dos poderosos.
A ausência de sua mãe, Mariama Diop, atravessa a narrativa como uma sombra, um silêncio que só será quebrado em momentos estratégicos. Quando Assane já domina a arte da ilusão e das fugas calculadas, ela ressurge, trazendo novas camadas ao conflito. Interpretada por Naky Sy Savané, Mariama contribui para a tensão crescente, adicionando um toque emocional a uma série que se equilibra entre ação, ironia e laços familiares despedaçados. Mais do que um thriller de assaltos ou um quebra-cabeça policial, “Lupin” se firma como uma história de resiliência e identidade, onde cada movimento tem um peso maior do que parece. Entre disfarces e artimanhas, a verdadeira questão permanece: Assane é um mestre do roubo ou apenas um homem tentando recuperar aquilo que nunca deveria ter sido tirado dele?
Série: Lupin
Criação: George Kay e François Uzan
Anos: 2021-2023
Gêneros: Thriller
Nota: 8/10