A série “Alvo Primário” é um thriller que combina mistério, história e um embate entre protagonistas e antagonistas, evocando elementos que remetem a narrativas como “O Código Da Vinci”. Em seus episódios iniciais, a trama insinua um enredo com potencial para envolver o espectador, mas tropeça em falhas estruturais que comprometem sua execução. O roteiro introduz conceitos ligados à ciência, matemática e arqueologia, sugerindo uma abordagem instigante sobre conhecimento e manipulação da informação. Contudo, a exploração dessas ideias oscila entre o intrigante e o decepcionante, resultado de uma narrativa que, por vezes, carece de coesão e profundidade.
A inconsistência interna da série se destaca como um de seus principais problemas. Em certos momentos, ela aparenta buscar um refinamento intelectual ao discutir enigmas científicos e descobertas arqueológicas; em outros, cai em contradições que desafiam a lógica do próprio universo ficcional. Um exemplo notório ocorre quando um personagem, supostamente um gênio da matemática, encontra dificuldades ao pesquisar números primos em uma biblioteca acadêmica devido à supressão dessas informações. Esse tipo de incongruência compromete a imersão do espectador que espera um thriller construído com inteligência e precisão. A série não deixa claro se deseja atrair um público fascinado por enigmas científicos ou se pretende seduzir uma audiência mais jovem, que se identifica com protagonistas vistos como incompreendidos em sua genialidade.
A falta de coerência na narrativa se soma a outro problema fundamental: atuações que deixam a desejar. Quintessa Swindell, no papel principal, não consegue transmitir a densidade emocional necessária para sustentar a complexidade da personagem. Em um papel secundário, suas limitações poderiam passar despercebidas, mas como protagonista, sua falta de expressividade enfraquece o impacto dramático da série. O mesmo problema se estende ao restante do elenco, que carece de profundidade psicológica e dinamismo em suas interações, resultando em uma química cênica pouco convincente. Além disso, a direção falha em criar uma atmosfera de tensão genuína, tornando o suspense menos envolvente do que a premissa sugere.
Apesar dessas fragilidades, “Alvo Primário” pode encontrar um nicho de espectadores interessados em tramas que envolvem conspirações, vigilância e a manipulação da verdade. A série sugere, ainda que de maneira superficial, a existência de forças ocultas operando nas sombras e lança questionamentos sobre o controle da informação. No entanto, para que essa abordagem se sustentasse, seria necessário um roteiro mais consistente e bem amarrado. Para o público que não exige grande rigor narrativo, a experiência pode ser satisfatória, ainda que limitada.
“Alvo Primário” dá indícios de um thriller promissor, mas tropeça em sua própria ambição. A tentativa de explorar mistérios e teorias instigantes se dissolve em um desenvolvimento frágil, personagens pouco cativantes e um enredo que carece de refinamento. Como entretenimento descompromissado, pode funcionar para aqueles que buscam apenas uma distração, mas para uma produção distribuída pela Apple TV Plus, as expectativas naturalmente são elevadas. Se estivesse no catálogo da Netflix, possivelmente sua recepção seria mais indulgente. No entanto, considerando o nível de qualidade estabelecido pela Apple em suas séries, “Alvo Primário” ainda precisa encontrar o equilíbrio entre sua premissa intrigante e uma execução que realmente faça jus ao seu potencial.
★★★★★★★★★★