A continuação de “The Dry” retorna ao universo melancólico e introspectivo do detetive Aaron Falk, mas sem a mesma precisão narrativa que fez do primeiro filme uma das grandes surpresas do cinema australiano recente. “Força da Natureza: The Dry 2” desloca Falk de um ambiente desolado para a selva úmida e traiçoeira, onde uma informante desaparece durante um retiro corporativo. Entre a busca pela mulher e as tensões latentes entre as participantes do evento, o filme entrelaça um mistério policial com traumas do passado do protagonista. No entanto, essa sobreposição de camadas, ao invés de aprofundar a história, acaba dispersando a tensão em fios narrativos pouco conectados, comprometendo a força do suspense.
Se “The Dry” se destacava pela austeridade de seu thriller policial, sua sequência adota um viés mais psicológico, ampliando a carga emocional e o desgaste das relações interpessoais sob circunstâncias extremas. O contraste geográfico entre os dois filmes reforça essa mudança de tom: o isolamento árido do primeiro longa cede espaço à opressão da floresta, onde a constante sensação de ameaça se esconde entre sombras e neblina. O visual exuberante da região montanhosa do Parque Nacional Dandenong Ranges poderia ser um diferencial mais marcante, mas a condução do roteiro não explora seu potencial narrativo de forma satisfatória. A promessa de um desfecho impactante se dilui em uma resolução previsível, deixando a impressão de que a jornada foi mais promissora do que sua conclusão.
O maior problema de “Força da Natureza: The Dry 2” está em sua estrutura fragmentada. O roteiro tenta equilibrar três linhas narrativas simultâneas: o embate psicológico entre as mulheres do retiro, o desaparecimento da informante e a sombra de um antigo assassino. No entanto, nenhuma dessas frentes recebe um desenvolvimento à altura de seu potencial. A subtrama do serial killer, por exemplo, surge como um elemento promissor, mas perde força ao ser reduzida a um recurso decorativo, sem grande impacto no desfecho. Esse excesso de narrativas não desenvolvidas compromete a imersão e dilui a tensão, fazendo com que o mistério perca sua potência conforme o filme avança.
Apesar dessas falhas estruturais, Eric Bana continua sendo o pilar da franquia. Seu Aaron Falk é um personagem impregnado de camadas psicológicas, um detetive cuja expressão carregada reflete a bagagem emocional que ele carrega. Mesmo quando o roteiro se mostra inconsistente, Bana sustenta a narrativa com sua presença magnética, trazendo a densidade necessária para manter o espectador envolvido. O elenco coadjuvante, por sua vez, cumpre seu papel sem grande brilho, prejudicado por personagens que carecem da complexidade necessária para gerar conexões mais profundas.
Olhando para o futuro, a adaptação do terceiro livro de Jane Harper parece inevitável, encerrando a jornada cinematográfica de Falk. Se essa franquia quiser resgatar o impacto de sua estreia, precisará reencontrar o equilíbrio entre atmosfera e concisão, evitando dispersão narrativa e investindo em uma condução mais focada. “Força da Natureza: The Dry 2” não chega a ser um fracasso, mas tropeça ao tentar sustentar uma ambição maior do que sua execução permite. Caso haja um capítulo final, a expectativa é que Falk tenha um desfecho digno da intensidade de sua trajetória.
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