Indicado a 2 Oscars, romance com Barbra Streisand que é uma joia a ser descoberta na Netflix Divulgação / TriStar Pictures

Indicado a 2 Oscars, romance com Barbra Streisand que é uma joia a ser descoberta na Netflix

Entre as inúmeras narrativas românticas que o cinema já explorou, “O Espelho Tem Duas Faces” evita a previsibilidade dos clichês habituais e investe em uma abordagem que mescla humor e uma análise sincera das complexidades emocionais. Sob a direção e protagonismo de Barbra Streisand, o filme parte de uma premissa familiar: dois acadêmicos desiludidos decidem se casar sem envolvimento romântico, apenas para descobrirem, ao longo do tempo, que a proximidade desperta sentimentos inesperados. O que poderia ser apenas mais uma comédia romântica convencional, entretanto, ganha nuances ao explorar não apenas o desenvolvimento do afeto, mas também a forma como os personagens lidam com suas inseguranças e expectativas.

A performance de Streisand carrega o peso emocional da narrativa. Como Rose, uma professora brilhante, mas desprovida de autoconfiança quanto à própria aparência, ela imprime um carisma singular à personagem. Seu talento como atriz se evidencia na maneira como conduz a jornada de autodescoberta de Rose, oscilando entre momentos de vulnerabilidade e instantes de empoderamento genuíno. No entanto, há um ponto de inflexão que merece atenção: a transformação estética de Rose, que a princípio se apresenta como um processo de crescimento pessoal, por vezes resvala em uma celebração excessiva da vaidade, quase como um reflexo do desejo da diretora-atriz de reafirmar sua própria imagem. Ainda assim, o roteiro compensa essa fragilidade ao dotar a personagem de diálogos espirituosos e uma evolução emocional convincente.

Outro pilar fundamental da trama está na relação entre Rose e sua mãe, interpretada com maestria por Lauren Bacall. Distante do estereótipo materno afetuoso, sua personagem é uma mulher amarga e egocêntrica, cujas interações com a filha expõem frustrações reprimidas e expectativas desmedidas. O embate entre as duas rende algumas das sequências mais impactantes do filme, como a cena em que, em meio a uma conversa trivial na cozinha, mágoas antigas reaparecem em falas cortantes e desprovidas de sentimentalismo barato. Bacall imprime complexidade à personagem, tornando-a não apenas uma figura severa, mas também alguém cuja rigidez esconde suas próprias inseguranças.

Jeff Bridges, no papel de Gregory, traz uma interpretação que transita entre a introspecção e a excentricidade, conferindo ao personagem um tom instável. Se por um lado sua entrega em momentos mais introspectivos contribui para a construção do arco narrativo, em algumas sequências ele parece oscilar entre a contenção e a teatralidade exagerada, dificultando a imersão plena do espectador. No entanto, sua dinâmica com Streisand mantém a história envolvente, conduzindo o espectador por uma trajetória que se afasta da idealização romântica e se aproxima da incerteza real das relações humanas.

O grande mérito do filme está na sua disposição de subverter a fórmula tradicional do gênero. Ao contrário da narrativa convencional de um amor que nasce do impacto imediato, “O Espelho Tem Duas Faces” adota um ritmo mais orgânico, no qual o afeto se constrói sobre frustrações, distanciamentos e redescobertas. Essa abordagem confere autenticidade à obra, transformando-a em uma reflexão sobre a necessidade de aceitação, a busca por aprovação e os padrões que moldam nossas relações. Mais do que uma simples comédia romântica, trata-se de uma história sobre identidade e autopercepção, capaz de entreter sem abrir mão de uma camada reflexiva que a mantém relevante mesmo após décadas.

Filme: O Espelho Tem Duas Faces
Diretor: Barbra Streisand
Ano: 1996
Gênero: Comédia/Drama/Romance
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★