O terror que começou como um filme barato e terminou como uma lenda — agora na Netflix Divulgação / Mandalay Entertainment

O terror que começou como um filme barato e terminou como uma lenda — agora na Netflix

Com o passar dos anos, fica evidente como os opostos podem se confundir. O belo e o trágico andam de mãos dadas, o grotesco perde sua rigidez assustadora, e o horror, inerente à experiência humana, revela-se até mesmo catártico. “Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado” é um desses exemplares que se fortalecem com o tempo, servindo de base para sátiras, continuações e incontáveis variações dentro do gênero.

Há quem prefira analisá-lo sob diferentes prismas, mas o público que realmente aprecia a proposta de Jim Gillespie pouco se interessa por divagações filosóficas a respeito de um produto nitidamente comercial — ainda que tais reflexões encontrem espaço. Em suas mãos, um enredo sobre imprudências juvenis se transforma num retrato minucioso da natureza humana, essa força insaciável em busca do inalcançável.

O longa reserva momentos de impacto. O roteiro assinado por Lois Duncan e Kevin Williamson compensa as limitações narrativas com soluções visuais e ambientações que elevam a tensão. Desde a primeira cena, a câmera desliza sobre um oceano sombrio e revolto, até se fixar em uma figura solitária contemplando o abismo. Há uma expectativa constante de que algo terrível está prestes a acontecer, mas o diretor prefere retardar a ação, destacando a celebração do Quatro de Julho — um artifício recorrente quando cineastas querem contrapor festividade e violência.

A história se passa em uma pequena cidade da Carolina do Norte, onde Helen Shivers conquista o título de Rainha Croaker em um concurso local. Para ela, o prêmio é o primeiro degrau rumo à Broadway, e sua ambição conta com o apoio do namorado, Barry Cox, um jovem mimado cuja índole questionável se revela aos poucos. Há ainda sua melhor amiga, Julie James, estudante exemplar que almeja o sucesso pelo intelecto, e seu namorado, Ray Bronson.

A trama toma forma quando os quatro se reúnem em torno de uma fogueira na praia. O assunto inevitável é uma antiga lenda urbana sobre um casal de jovens que encontrou um gancho ensanguentado na porta do carro. Mais tarde, ao voltarem para casa, avistam um estranho na estrada e, tomados por um impulso inconsequente, resolvem brincar com ele de maneira irresponsável — um jogo perigoso que termina de forma desastrosa.

Como esperado, omitem o incidente e seguem suas vidas. Helen se muda para Nova York em busca de sua carreira, mas retorna à cidade no verão seguinte para visitar a família. É então que recebe uma carta com a frase que dá nome ao filme, um aviso de que o passado não ficou para trás. Acompanhando a ameaça, surge a figura enigmática de um pescador vestido com uma capa de chuva e um chapéu de borracha, personificando o terror que espreita nas sombras.

Dali em diante, “Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado” se alinha rigidamente aos preceitos do slasher, com um assassino implacável e uma série de mortes sangrentas pontuadas por um tom de absurdo característico do gênero. Para quem viveu a adolescência nos anos 1990, a verdadeira diversão talvez esteja em observar como o tempo agiu sobre os rostos de Sarah Michelle Gellar, Ryan Phillippe, Jennifer Love Hewitt e Freddie Prinze Jr. — que se tornou marido de Gellar — e perceber que, de alguma forma, o espectador envelheceu melhor do que eles. Poderia até puxar “A Vingança dos Nerds” (1984), de Jeff Kanew, para ilustrar o contraste entre épocas, mas acho que é mais sensato encerrar por aqui.

Filme: Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado
Diretor: Jim Gillespie
Ano: 1997
Gênero: Crime/Terror
Avaliação: 7/10 1 1
★★★★★★★★★★