“Finch” possui uma abordagem comedida, com uma narrativa introspectiva e tocante que, ao invés de se basear na destruição, explora a preservação da humanidade e a busca por conexão em um futuro pós-apocalíptico. Dirigido por Miguel Sapochnik, o filme nos apresenta a um mundo devastado, onde a verdadeira luta pela sobrevivência transcende o combate físico, revelando as nuances emocionais de seus personagens.
A narrativa segue Finch (Tom Hanks), um homem idoso e recluso, que, ao lado de seu fiel cachorro Goodyear e de um robô auto-consciente chamado Jeff, tenta encontrar um propósito em um mundo onde a civilização já não existe. Enquanto os três personagens enfrentam tempestades violentas e a desolação de um planeta quase inabitável, o filme vai bem além de um simples drama de sobrevivência.
O ponto de virada da história está no desenvolvimento da relação entre Finch e Jeff, o robô, que, embora inicialmente sem compreensão sobre a natureza humana, gradualmente adquire um entendimento profundo sobre emoções, ética e a complexidade do comportamento humano. Esse diálogo improvável entre homem, máquina e animal, longe de ser uma mera troca de palavras ou gestos, constrói um elo de aprendizado mútuo, no qual cada interação resulta em um crescimento emocional significativo. É nesse aspecto que “Finch” revela seu verdadeiro charme: não na batalha pela sobrevivência, mas nas questões existenciais que ele levanta sobre nossa própria humanidade, nossas falhas e nossas aspirações.
A maior qualidade de “Finch” é a profundidade psicológica de seus personagens, particularmente a de Finch, cuja interpretação de Tom Hanks é, sem dúvida, a espinha dorsal do projeto. Hanks, um dos atores mais versáteis da sua geração, infunde uma humanidade palpável no papel, tornando-o, em muitos momentos, um reflexo das dúvidas e ansiedades de qualquer pessoa diante da perda e da finitude. É um desempenho que não só prende o espectador, mas o convida a refletir sobre o que realmente significa viver, em vez de apenas sobreviver.
No entanto, não podemos ignorar que o ritmo da narrativa sofre uma leve queda no segundo ato, onde, ao buscar uma resolução para sua história, o filme se torna mais previsível, distanciando-se da intensidade emocional da primeira metade. Embora isso possa ser visto como uma falha na construção da trama, não prejudica o valor da experiência, pois a proposta de “Finch” nunca foi oferecer um épico de ação, mas uma meditação sobre a conexão humana em tempos de isolamento.
“Finch” é uma proposta diferente, uma reflexão sobre as relações que estabelecemos e o impacto que elas têm em nossa jornada. O robô Jeff, com seu crescente entendimento sobre as emoções humanas, serve como uma metáfora para a busca incessante por algo maior em meio ao caos — a necessidade de construir algo que perdure, de deixar um legado, de alcançar a verdadeira conexão. Nesse ponto, o filme não apenas questiona o que é necessário para a sobrevivência, mas o que é necessário para dar sentido à vida, mesmo quando o mundo ao nosso redor se desintegra. A ausência de ação dramática em excesso não empobrece o filme, pelo contrário, confere-lhe uma força emocional rara, que, longe de ser forçada, é construída de maneira sutil e genuína.
Ao longo de suas duas horas de duração, “Finch” revela que, mesmo sem uma avalanche de cenas de combate, um filme pode ser igualmente poderoso e transformador. A performance de Tom Hanks, sem dúvida, é o pilar que sustenta toda a obra, permitindo que o espectador se envolva profundamente com a jornada emocional de Finch, Goodyear e Jeff. O filme nos lembra que, apesar das tempestades e do desespero que nos cercam, a verdadeira essência do ser humano reside nas relações que conseguimos cultivar — com outros seres, com os animais e, até mesmo, com as máquinas que criamos.
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