Thriller com Joseph Fiennes e Tom Felton que remonta eventos bíblicos de forma inteligente e intrigante está na Netflix Divulgação / Columbia Pictures

Thriller com Joseph Fiennes e Tom Felton que remonta eventos bíblicos de forma inteligente e intrigante está na Netflix

Ao adaptar narrativas bíblicas para o cinema, muitos filmes acabam prisioneiros de um didatismo excessivo, transformando-se em meros discursos ilustrados que alienam o público. “Ressurreição” subverte essa tendência ao estruturar-se como um thriller investigativo, conduzido pelo tribuno romano Clavius, encarregado de resolver o mistério do desaparecimento do corpo de Jesus de Nazaré. A inteligência dessa escolha está na forma como a trama se distancia do discurso religioso convencional, permitindo que a história seja contada sob o olhar de um cético, o que proporciona à narrativa uma tensão autêntica e a insere no gênero do suspense histórico.

Joseph Fiennes encarna Clavius com uma intensidade contida, construindo um personagem que não se rende a caricaturas simplistas. Ele não é um antagonista anticristão nem um convertido instantâneo, mas um homem moldado pelo pragmatismo romano, que gradualmente se vê confrontado por evidências que desafiam sua racionalidade. Essa jornada investigativa empresta ao filme um ritmo mais envolvente do que o tradicional relato evangelístico, aproximando-o do cinema de mistério ao transformar a ressurreição em um enigma a ser decifrado. Esse recurso o distancia de adaptações recentes como “Noé” e “Êxodo: Deuses e Reis”, que dividiram o público por suas liberdades criativas, enquanto “Ressurreição” se ancora com mais solidez na tradição cristã.

Ainda assim, o filme não está isento de fragilidades. O primeiro ato, marcado por cortes abruptos e uma edição irregular, compromete a imersão, embora a narrativa se torne mais fluida conforme se aproxima do clímax. A escolha por uma direção de fotografia mais contida favorece o realismo, evitando o excesso de efeitos digitais e priorizando uma ambientação crível. Essa abordagem sutil também se reflete na trilha sonora, que evita melodramas enfáticos e reforça a sobriedade da proposta.

No entanto, o elenco coadjuvante apresenta inconsistências. Peter Firth, no papel de Pôncio Pilatos, entrega uma performance apagada, enquanto Tom Felton, como um jovem soldado romano, parece deslocado dentro do tom realista da produção. Esses deslizes, embora não comprometam o impacto geral do filme, diminuem a força de certas cenas. Felizmente, o desempenho de Fiennes sustenta a narrativa, equilibrando as fragilidades do elenco secundário.

“Ressurreição” não busca competir com grandiosidades cinematográficas como “A Paixão de Cristo”, mas encontra seu próprio mérito ao equilibrar investigação e reflexão. Sua maior qualidade está na habilidade de recontar um evento amplamente conhecido sem subestimar a inteligência do espectador. 

Filme: Ressurreição
Diretor: Kevin Reynolds
Ano: 2016
Gênero: Ação/Drama/História
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★