Inédito e imbatível: o primeiro filme mexicano de ação a estrear como nº1 na Netflix continua no topo há 10 dias Divulgação / Netflix

Inédito e imbatível: o primeiro filme mexicano de ação a estrear como nº1 na Netflix continua no topo há 10 dias

O cinema de ação, frequentemente reduzido a uma sucessão de explosões e confrontos coreografados, pode esconder complexidades que vão além do espetáculo visual. “Contra-Ataque” tenta ocupar esse espaço ambíguo, onde a adrenalina das batalhas precisa conviver com a densidade de dilemas morais. Sob a direção de Chava Cartas, o filme se desenrola como um thriller militar pulsante, mas esbarra em escolhas narrativas que impedem um aprofundamento genuíno. Há um esforço visível para construir um universo onde a linha entre heróis e vilões se dissolve em cinza, mas a execução oscila entre momentos de grande intensidade e soluções que subestimam o olhar atento do espectador.

A trama se ancora na figura do capitão Armando Guerrero, comandante de uma unidade de elite das Forças Especiais Mexicanas, encarregado de sufocar as operações do cartel liderado pelo implacável Josefo Urias, conhecido como “El Aguijón”. O conflito é acionado quando duas mulheres encontram os corpos mutilados de soldados abatidos pelo cartel, transformando uma missão de reconhecimento em uma caçada sem retorno. A equipe de Guerrero, apelidada de morcegos pela habilidade de agir sob o manto da escuridão, é lançada em um jogo tático que se desenrola entre florestas densas e corredores urbanos sufocantes. Cada emboscada, cada traição e cada escolha tomada sob fogo cruzado empurram os personagens para um território onde códigos de conduta se tornam um luxo inalcançável.

A brutalidade do confronto é reforçada por uma estética que se distancia do glamour estilizado e se aproxima do caos palpável da guerra urbana. O Golfo da Califórnia, corredor estratégico do tráfico, funciona não apenas como cenário, mas como um lembrete constante da hipocrisia que permeia essa guerra. De um lado, os agentes da lei enfrentam riscos extremos para impedir o fluxo de entorpecentes. Do outro, a demanda insaciável por drogas mantém o ciclo intacto, abastecendo consumidores que jamais verão de perto as execuções sumárias ou os corpos esquecidos em valas clandestinas. O filme flerta com essa ironia, mas hesita em aprofundá-la, preferindo concentrar-se no embate direto entre soldados e criminosos.

Se há um ponto onde “Contra-Ataque” realmente se destaca, é na condução das cenas de combate. A direção imprime um ritmo ágil, favorecendo uma imersão que não depende apenas de cortes rápidos, mas de uma construção precisa da tensão. A sequência do resgate de El Marrano sintetiza essa abordagem: uma extração que deveria seguir protocolos rígidos se transforma em um balé tático de tiros e movimentações estratégicas, onde cada erro pode ser fatal. Entretanto, essa precisão não é mantida ao longo de toda a narrativa. Em diversos momentos, Guerrero e sua equipe ignoram procedimentos básicos de combate, expondo-se de maneira que compromete a verossimilhança para aqueles familiarizados com operações militares reais.

Os antagonistas, por sua vez, carecem de profundidade. Josefo Urias é projetado como uma força de destruição, mas suas motivações permanecem no campo do genérico. A exceção é o Secretário Arvizu, cuja figura sugere a intersecção perigosa entre crime organizado e corrupção estatal. No entanto, sua presença é diluída ao longo do roteiro, e o impacto que poderia ter na narrativa nunca se concretiza por completo. Essa escolha limita o alcance do filme, que, ao evitar complexificar as relações de poder, perde a oportunidade de se tornar algo além de uma narrativa de perseguição.

O clímax da história, construído em torno do cerco ao esconderijo de Urias, é uma amostra do que funciona e do que falha na estrutura de “Contra-Ataque”. A tensão é palpável, a violência é visceral, mas a lógica interna da cena se desfaz quando a quantidade de capangas do cartel parece evaporar sem uma justificativa clara. O duelo final entre Guerrero e Urias, que deveria representar a culminação de toda a jornada, é executado com intensidade, mas carece de um peso dramático que ressoe além do momento. A sensação é de que o filme chega ao seu ápice sem explorar completamente o que poderia ter sido uma conclusão memorável.

No conjunto, “Contra-Ataque” entrega um espetáculo de ação que não decepciona quem busca adrenalina, mas sua tentativa de adicionar camadas à narrativa permanece superficial. O filme levanta questões sobre lealdade, moralidade e o preço da guerra contra o tráfico, mas nunca se compromete a explorá-las de maneira incisiva. Para aqueles que procuram uma experiência imersiva e intensa, há muito a ser aproveitado. Para os que esperam um thriller que desafie convenções e provoque reflexões, o filme parece interromper a própria trajetória antes de alcançar todo o seu potencial.

Filme: Contra-Ataque
Diretor: Chava Cartas
Ano: 2025
Gênero: Ação/Guerra
Avaliação: 7/10 1 1
★★★★★★★★★★