Todo mundo quer ver Demi Moore nas telas, por isso esse filme está no TOP10 da Max 30 anos após seu lançamento Divulgação / Castle Rock Entertainment

Todo mundo quer ver Demi Moore nas telas, por isso esse filme está no TOP10 da Max 30 anos após seu lançamento

Lançado em 1996, “Striptease” rapidamente se tornou alvo de equívocos e avaliações precipitadas. Vendido como um veículo para explorar a sensualidade de Demi Moore, o filme de Andrew Bergman foi recebido com frieza, muito mais pelo peso das expectativas comerciais do que por suas qualidades narrativas. Contudo, sob a superfície de um enredo aparentemente simples, esconde-se uma sátira social afiada que escancara a hipocrisia política e os obstáculos enfrentados por uma mulher determinada a sobreviver em um sistema hostil.

O centro da trama é Erin Grant, uma ex-secretária do FBI que, após perder a guarda da filha devido à precariedade financeira, vê-se obrigada a trabalhar em um clube de strip-tease para custear o processo contra o ex-marido. Longe de ser uma trajetória meramente exploratória, sua história se desenrola em meio a um jogo de interesses que vai além do palco iluminado da boate. O envolvimento involuntário com um congressista corrupto, interpretado por um Burt Reynolds em estado de graça, revela os subterrâneos da política americana, onde dinheiro, influência e escândalos se entrelaçam de forma cínica e muitas vezes absurda. O roteiro, adaptado do romance de Carl Hiaasen, injeta ironia e humor ácido para expor a engrenagem de um sistema movido por ambição e oportunismo.

O filme possui um elenco afiado, que proporciona à narrativa um dinamismo peculiar. Ving Rhames, com sua presença magnética, entrega uma performance precisa como o leal segurança de Erin, funcionando como uma âncora moral em meio ao caos que a cerca. Robert Patrick, conhecido por seu papel intimidador em “O Exterminador do Futuro 2”, encarna um antagonista desprezível com a dose certa de sordidez. Mas é Burt Reynolds quem rouba a cena, dando ao seu congressista corrupto um tom farsesco irresistível. Seu desempenho atinge o ápice na infame sequência da vaselina, um momento que encapsula a veia satírica do longa, reforçando que “Striptease” nunca pretende ser um drama convencional.

Grande parte da recepção negativa do filme vem de sua recusa em se encaixar em um gênero único. Oscilando entre comédia, thriller e crítica social, sua identidade ambígua gerou um estranhamento inevitável para um público acostumado a classificações mais rígidas. O humor ácido se entrelaça a momentos de tensão genuína, tornando a experiência pouco convencional, mas longe de ser desprovida de substância. Se tivesse sido dirigido por cineastas como os irmãos Coen, talvez fosse reavaliado como uma obra de humor negro engenhoso, em vez de ser descartado como mero entretenimento vulgar.

A direção de Bergman acerta ao evitar que a ambientação do clube de strip-tease resvale na superficialidade. Em vez de retratar o espaço como um fetiche vazio ou um universo caricatural, o filme humaniza suas personagens, destacando suas motivações e dilemas com um olhar que foge ao maniqueísmo. A trilha sonora bem escolhida e a fotografia, que contrapõe os bastidores da política e os palcos iluminados do clube, reforçam a dualidade explorada ao longo da trama, ampliando a crítica implícita ao moralismo seletivo da sociedade.

Embora “Striptease” jamais tenha ambicionado o status de clássico, há nele uma sagacidade que foi injustamente subestimada. Ao se despir das expectativas equivocadas que o cercaram, é possível enxergar além do apelo

Filme: Striptease
Diretor: Andrew Bergman
Ano: 1996
Gênero: Comédia/Crime/Drama/Thriller
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★