Indicado a 192 prêmios, incluindo 2 Oscars em 2025, drama baseado em livro de Celson Whitehead está no Prime Vide Divulgação / Amazon Prime Video

Indicado a 192 prêmios, incluindo 2 Oscars em 2025, drama baseado em livro de Celson Whitehead está no Prime Vide

A adaptação cinematográfica de “Os Garotos da Nickel”, baseada no premiado romance de Colson Whitehead, prometia um relato contundente sobre a brutalidade do racismo institucionalizado. Entretanto, a ambição do projeto se perde em escolhas estéticas que, em vez de amplificar a força da narrativa, criam um distanciamento frustrante entre o público e os personagens. A direção de RaMell Ross adota uma abordagem visual arrojada, mas o excesso de experimentalismo acaba esvaziando a carga emocional da história.

No roteiro, acompanhamos Elwood Curtis (Ethan Herisse), um jovem negro injustamente enviado ao terrível Reformatório Nickel, onde enfrenta a violência sistemática de um regime opressor. A decisão de Ross de utilizar planos fechados e uma câmera subjetiva incessante parece ter a intenção de aproximar o espectador do horror vivido pelo protagonista, mas o efeito é o oposto: ao restringir o campo de visão, a direção compromete a construção do espaço narrativo e dificulta a imersão. A brutalidade do sistema não se impõe de maneira avassaladora, pois os enquadramentos claustrofóbicos limitam a percepção do ambiente, tornando a opressão menos tangível do que no romance de Whitehead.

Além disso, a narrativa se arrasta em um ritmo contemplativo que enfraquece a potência da denúncia social. Com uma duração de 2 horas e 20 minutos, o filme se propõe a refletir a lentidão excruciante do tempo dentro do Reformatório Nickel, mas acaba testando a paciência do espectador sem recompensá-lo com um impacto emocional correspondente. A repetição de momentos silenciosos, aliada à ausência de uma progressão dramática bem definida, dilui a indignação que deveria pulsar a cada cena. O peso histórico e simbólico da história perde força quando a estética se sobrepõe ao conteúdo.

A fotografia, embora visualmente interessante, apresenta desafios estruturais que prejudicam a compreensão da trama. A câmera, ao alternar perspectivas de maneira abrupta e sem transições claras, gera uma confusão que afeta diretamente a recepção dos momentos mais tensos. Em cenas de violência e abuso, a abstração visual dilui a urgência dos eventos, tornando a dor dos personagens mais difusa do que visceral. Em vez de um retrato implacável da desumanização, o filme se transforma em um exercício estilístico que nem sempre serve à narrativa.

Apesar dessas limitações, o elenco entrega performances intensas, com Ethan Herisse oferecendo uma interpretação de Elwood que captura a resiliência do personagem. No entanto, mesmo atuações bem calibradas são prejudicadas pelo distanciamento imposto pela estética do filme. O espectador nunca sente plenamente o impacto da luta interna dos personagens, pois os enquadramentos e a montagem parecem enfatizar a estilização da experiência em detrimento da empatia.

“O Reformatório Nickel” acaba fazendo de si mesmo um exemplo de como a experimentação visual pode, paradoxalmente, enfraquecer uma história que exigia crueza e contundência. O filme tenta inovar na forma, mas ao fazer isso, se distancia da essência do livro de Whitehead. Algumas narrativas exigem menos filtro e mais clareza, pois seu impacto não vem apenas da estética, mas da verdade que carregam. E nesse quesito, a adaptação falha em dar voz àquilo que deveria ser ensurdecedor.

Filme: O Reformatório Nickel
Diretor: RaMell Ross
Ano: 2024
Gênero: Drama
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★