Comédia com Amanda Bynes estreia na Netflix para convencer seu cérebro que tudo ficará bem (pelo menos por 108 minutos) Divulgação / Universal Pictures

Comédia com Amanda Bynes estreia na Netflix para convencer seu cérebro que tudo ficará bem (pelo menos por 108 minutos)

O que pode dar uma mistura de “A Vingança dos Nerds” (1984), dirigido por Jeff Kanew; “Meninas Malvadas” (2004), levado à tela por Mark Waters; e “Legalmente Loira” (2001), de Robert Luketic? Joe Nussbaum parece ter querido responder essa pergunta, e chegou muito perto. “Ela e os Caras” saca da velha fórmula da garota descolada que deixa o conforto do lar e muda-se para uma cidade maior a fim de ingressar na universidade e ganhar o mundo, não sem antes experimentar dissabores a exemplo de uma verdade inescapável: nem todos pensam como ela.

Sydney White, a protagonista a quem o título original alude, é uma garota cuja mãe morrera quando ela tinha sete anos, criada pelo pai, um pequeno empreiteiro e seu grupo de amigos e colaboradores, marmanjos bem-intencionados, mas rudes, e parecia não temer mais nenhum contratempo, até deparar-se com a insana divisão de estudantes nas tais fraternidades, agremiações que, na prática, apenas segregam e servem para perpetuar injustiças ainda antes da chamada vida adulta. Nussbaum arranha o tema, concentrando-se nos percalços de sua anti-heroína depois que chega a sua nova casa e conhece gente em nada semelhante a ela. Para o bem e para o mal.

Sydney se despede do pai, Paul, de John Schneider, e segue para a Universidade Atlântica da Flórida, em Boca Raton, Flórida, mais precisamente para a Kappa Phi Nu. Sua mãe também fora recebida pela Kappa, o que faz dela uma herdeira e, por conseguinte, uma lenda entre seus pares, uma legião de moças que usam manequim 2 e cabelos dourados e sedosos, aparentemente mais interessadas em namorar um rapaz de boa família e garantir seu futuro sem muito esforço.

Com seus cabelos escuros e roupas de skatista, Sydney, claro, não se encaixa no padrão rosicler de seu novo habitat, e o texto de Chad Gomez Creasey ilumina certos ângulos desse tópico, que acaba por conduzir boa parte do filme. A irmandade é liderada por Rachel Witchburn que, de acordo com seu próprio nome, não mede esforços para queimar na fogueira das vaidades qualquer um que julgue uma bruxa. Encabeçam sua lista negra os moradores do Vortex, párias que, rejeitados pelos outros alojamentos, reuniram-se num casarão abandonado e insalubre na entrada do campus.

A dada altura, Rachel expulsa Sydney da Kappa e pode-se supor o que vem a seguir. Dinâmica, Amanda Bynes segura sem dificuldade o que resta da trama, que passa a vibrar no que a garota pode apresentar de próximo e de inconciliável com aquela fauna de tipos estranhos, entre os quais incluem-se Jeremy, que só consegue estabelecer comunicação para além de seu corpo rechonchudo por meio do fantoche de um cão, e Terrence, um veterano que, mesmo formado há oito anos, não sai de Vortex e comparece às aulas.

Bynes circula entre esses dois universos, batendo de frente com a antagonista de Sara Paxton, ao passo que oferece seu ombro amigo a Jeremy e Terrence, de Adam Hendershott e Jeremy Howard. Sua situação piora muito quando Tyler, um ex-namorado de Rachel, encanta-se por ela, mas o diretor amarra diligentemente esta e aquela subtrama, recorrendo à química entre Bynes e Matt Long. Todavia, para uma releitura de sucessos infantojuvenis do início dos anos 2000, remetendo aqui e ali à clássicos do besteirol dos 1980 — e uma estranha menção à “Branca de Neve e os Sete Anões”, o inesquecível conto de fadas compilado pelos Irmãos Grimm entre 1817 e 1822, “Ela e os Caras” deixa a desejar.

Filme: Ela e os Caras
Diretor: Joe Nussbaum
Ano: 2007
Gênero: Comédia/Romance
Avaliação: 7/10 1 1
★★★★★★★★★★
Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.