A comédia romântica com Jennifer Lopez que Freud recomendaria se estivesse vivo (e assinasse Netflix) Divulgação / Sony Pictures Releasing

A comédia romântica com Jennifer Lopez que Freud recomendaria se estivesse vivo (e assinasse Netflix)

A busca pela maternidade é frequentemente descrita como a mais nobre das aventuras, e “Plano B” materializa esse anseio em meio a confusões, reviravoltas e a promessa de um amor que surge quando menos se espera. Se para muitos pais a rotina de gritos estridentes, pequenas chantagens e preocupações constantes com a alimentação dos filhos se traduz em um “Céu na Terra”, a protagonista Zoe — interpretada por Jennifer Lopez — encarna essa sede de vivenciar a experiência de gerar e cuidar de uma nova vida. Ao mesmo tempo, o diretor Alan Poul e a roteirista Kate Angelo não hesitam em levar o público às gargalhadas ao evidenciar os absurdos que permeiam a ideia de criar um bebê sem um parceiro fixo, sobretudo quando o destino resolve colocar um homem encantador no caminho da futura mãe solo.

Zoe, dona de um pet shop em Manhattan, cresceu com a profunda convicção de que não precisa de um companheiro para concretizar seus sonhos, especialmente depois de ver o pai abandonar sua mãe durante uma doença grave. Determinada a ter um filho, ela recorre a um programa de inseminação artificial, onde conta com o apoio afável do doutor Harris — interpretado por Robert Klein — cuja postura quase paternal por vezes ameniza o drama inerente ao procedimento. É nesse contexto que emergem as cenas cômicas e didáticas sobre fertilização, enriquecidas por uma direção de arte detalhista, que retrata os bastidores e equipamentos das clínicas de reprodução assistida. Para Zoe, tudo parecia calculado e quase perfeito, até um temporal e um táxi disputado a aproximarem de modo irônico a pessoa que poderia transformar suas certezas em um dilema inesperado.

O homem em questão é Stan (Alex O’Loughlin), um fazendeiro e produtor de queijos de cabra que, de maneira improvável, vive em Nova York enquanto finaliza sua faculdade de Economia. O encontro entre os dois, marcado por tropeços e química imediata, logo se intensifica, ainda que Zoe já carregue um segredo: o embrião em seu ventre começara a se desenvolver. Entre momentos hilários — como quando ela acerta o carro numa árvore ao vê-lo sem camisa — e cenas de ternura, o casal tateia os desafios da gravidez e das inseguranças que rondam a perspectiva de uma família fora dos moldes convencionais. O roteiro encontra espaço para personagens secundários carismáticos, como Mona (Michaela Watkins) e o melhor amigo Clive (Eric Christian Olsen), que reagem às decisões de Zoe com doses equilibradas de afeto e desconcerto. Até a avó de Zoe (Linda Lavin), prestes a se casar com o Arthur de Tom Bosley, rouba a cena numa sequência festiva que, apesar de flertar com o dramalhão, confere ao filme um tom de farsa quase irrefreável.

Ainda que “Plano B” siga a fórmula repleta de clichês típica das comédias românticas, as avaliações da crítica especializada se mostram duras: o longa registra nota de 5,3 no IMDb e apenas uma estrela no site de resenhas do “Roger Ebert”. Boa parte dos especialistas enxerga na obra o estereótipo que costuma acompanhar produções estreladas por Jennifer Lopez, acusando-a de previsibilidade e dramatizações exageradas. Contrariando esse coro, porém, surge um público fiel que não resiste a um enredo sobre maternidade, romance e superação pessoal — por mais banal que possa parecer, o somatório de cenas engraçadas, conflitos cotidianos e momentos de pura ternura garante um entretenimento leve. A combinação entre a direção de Alan Poul, o roteiro de Kate Angelo e a presença magnética de J.Lo transforma a narrativa em um ‘guilty pleasure’ que agrada justamente por não disfarçar sua vocação para diversão pura e simples.

 “Plano B” equilibra humor e doses moderadas de drama para mostrar como a vida pode, vez ou outra, pregar peças e misturar todos os ingredientes de uma receita que julgávamos controlar. Se, no fim das contas, o filme não aspira a grandes voos artísticos, compensa com carisma e oferece uma perspectiva otimista sobre relações familiares e afetivas. Em meio às situações constrangedoras e às inseguranças inevitáveis de quem decide ter filhos sem um companheiro, desponta a noção de que o afeto e a disposição para enfrentar desafios podem — com ou sem planos perfeitos — criar laços genuinamente fortes e inesquecíveis.

Filme: Plano B
Diretor: Alan Poul
Ano: 2010
Gênero: Comédia/Romance
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★