A história de amor mais bonita do Prime Video: é aquele tipo de história que se assiste com os olhos, mas fica gravada na alma Divulgação / Amazon Prime Video

A história de amor mais bonita do Prime Video: é aquele tipo de história que se assiste com os olhos, mas fica gravada na alma

A vida tem ritmo. O mundo é uma imensa pista de dança, onde milhares de sensações novas florescem todos os dias, todas em algum grau feitas da urgência de colocar-se o que não serve mais para fora, seguindo a cadência da música. O homem gasta muito tempo dedicando-se a escapar à banalidade, uma guerra perdida que insistimos em travar com os fantasmas menos óbvios que habitam nossas profundezas mais inacessíveis. Pensamos — uns mais, outros menos, mas todos, sem exceção — sobre se é possível voltarmos ao que fomos, se podemos ter outra vez os desejos que eram nossa própria essência.

Perdemos horas de sono, que costumam estender-se para o expediente de trabalho, elucubrando, tecendo digressões as mais insanas acerca de como teria sido nossa jornada se houvéssemos tomado essa ou aquela decisão a respeito de tal ou qual assunto, e enquanto isso o baile avança e o salão vai se enchendo. Em “O Amor de Sylvie”, ninguém parece ter inquietude outra que não seja aproveitar a festa até o último instante, ainda que a mais humana das emoções não se mostre uma anfitriã sensata muitas vezes. O drama romântico de Eugene Ashe mistura a leveza intensa do jazz à paisagem sempre faustosa de Nova York, ainda mais encantadora na década de 1950, chegando a uma versão refrescante de amores malgrados, sem tanta lágrima e cheia de balanço.

Os dramas românticos talvez não sejam mais capazes de sustentar uma história pela força do argumento que reza que o amor supera qualquer dificuldade, ultrapassa todos os obstáculos e supre carências afetivas de outras ordens. Tramas dessa natureza têm sido cada vez mais escassas e quase sempre ambientam-se em tempos distantes, justamente porque o amor, é uma lástima, mudou demais. Como todos os sentimentos de que o homem desfruta e contra os quais flagra-se numa guerra encarniçada, tentando se libertar e mais e mais enredando-se em seus fios, igual à mosca na teia da aranha, o amor tem predicados e defeitos de que se gosta ou se desgosta em maior ou menor proporção, despertando assim reações as mais imprevisíveis a depender de quem atinja.

Sylvie Parker é a típica moça de família, daquelas que não se acham mais facilmente nesse nosso insano século 21. Ashe concentra boa parte da força da narrativa em sua personagem central, que não se agasta em passar o verão inteiro devidamente aboletada diante da TV da loja do pai, um dos mais antigos comerciantes de discos do Brooklyn. Até que surge Robert Halloway, um aspirante a saxofonista que se candidata a uma vaga de vendedor e então o diretor-roteirista vai levando seu filme para uma sucessão de encontros e desencontros entre esse par de almas puras — mas que talvez não sejam gêmeas —, investindo acertadamente nas performances cheias de nuanças agridoces de Tessa Thompson e Nnamdi Asomugha, um melhor que o outro, fazendo deste um longa quase antológico. Mas sem nenhuma dúvida inesquecível.

Filme: O Amor de Sylvie 
Diretor: Eugene Ashe
Ano: 2020
Gênero: Drama/Romance
Avaliação: 9/10 1 1
★★★★★★★★★
Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.