Michael Douglas, veterano em encarnar personagens atormentados por dilemas morais, retorna ao suspense político em “Sentinela”, dando vida a Pete Garrison, um agente do Serviço Secreto cujo passado de lealdade irrestrita é colocado em xeque quando se torna o principal suspeito de uma conspiração para assassinar o presidente dos Estados Unidos. O personagem, que carrega a honra de ter protegido Ronald Reagan durante uma tentativa de assassinato, vê-se encurralado por circunstâncias que transformam sua experiência em um fardo e sua reputação em uma armadilha.
O enredo, baseado no romance de Gerald Petievich, se desenrola dentro dos bastidores da segurança presidencial, onde a paranoia é um protocolo e a confiança, um recurso escasso. O conflito central ganha contornos ainda mais delicados quando um agente infiltrado ameaça a estabilidade da Casa Branca, e todas as pistas apontam para Garrison. Como se não bastasse a pressão do cerco se fechando, ele ainda mantém um relacionamento extraconjugal com a Primeira-Dama, interpretada por Kim Basinger — uma escolha que, além de comprometer sua posição, o coloca em um labirinto ético e emocional sem saída fácil.
A trama se articula entre a tensão dos corredores do poder e a caçada implacável liderada por David Breckinridge (Kiefer Sutherland), um agente cuja relação com Garrison é marcada por ressentimentos pessoais. O duelo entre os dois se torna o motor narrativo do filme, estabelecendo um jogo de gato e rato que explora tanto a perícia técnica do Serviço Secreto quanto as fragilidades humanas de seus membros. No entanto, se o roteiro flerta com um potencial thriller de alta voltagem, ele tropeça ao se prender a soluções convencionais, esvaziando parte da tensão que deveria impulsionar a história. O excesso de tecnicalidades, embora enriqueça a ambientação, não é suficiente para mascarar a previsibilidade do desenvolvimento.
Michael Douglas carrega o papel com a solidez habitual, conferindo ao personagem uma mistura de astúcia e exaustão que sustenta sua credibilidade. Kiefer Sutherland, por sua vez, entrega uma performance eficiente, ainda que pouco surpreendente, trazendo ecos de seu icônico papel em “24 Horas”. Já Kim Basinger equilibra fragilidade e determinação em sua interpretação, enquanto Eva Longoria, estreando no gênero, não consegue imprimir a intensidade necessária para tornar sua agente convincente — uma limitação que ressalta a dificuldade de criar personagens femininas impactantes dentro desse nicho.
Apesar de sua execução correta e do fascínio inerente ao universo que retrata, “Sentinela” não consegue se destacar entre os grandes exemplares do gênero. A ausência de um antagonista verdadeiramente marcante e a previsibilidade de suas reviravoltas diluem a força do suspense, tornando-o mais funcional do que memorável. Se títulos como “O Fugitivo” e “Intriga Internacional” consolidaram-se ao oferecer camadas inesperadas de complexidade e ritmo, “Sentinela” se contenta em seguir fórmulas testadas, sem ousar transcendê-las.
Ainda assim, para quem busca um entretenimento ágil, embalado pelo carisma de seu elenco e pelo fascínio inerente às tramas de conspiração política, o filme cumpre seu papel. Não redefine o gênero, tampouco impressiona pela originalidade, mas entrega uma experiência sólida dentro dos limites que escolheu para si.
★★★★★★★★★★