O filme perfeito para quem gosta de Jane Austen e “Bridgerton”, na Netflix

O filme perfeito para quem gosta de Jane Austen e “Bridgerton”, na Netflix

Poucas séries televisivas conseguiram capturar com tanta precisão a dinâmica da aristocracia britânica quanto “Downton Abbey”. Ao longo de suas temporadas, a produção conquistou uma legião de admiradores graças ao refinamento de seu roteiro, diálogos envolventes e interpretações memoráveis. Quando foi anunciada a adaptação cinematográfica, a expectativa era imensa: seria possível preservar a essência da série dentro das limitações de um longa-metragem? A resposta, embora positiva em diversos aspectos, também revela os desafios de condensar um universo tão vasto em apenas duas horas.

O que permanece intacto é o esplendor visual. A mansão Downton, mais do que um simples cenário, continua a ser um personagem por si só, carregando a imponência e o requinte que sempre a definiram. A direção de arte mantém seu compromisso impecável com os detalhes históricos, desde os trajes meticulosamente confeccionados até a decoração exuberante. Cada cena se apresenta como um quadro minuciosamente pintado, reforçando a grandiosidade estética que marcou a série. A trilha sonora, por sua vez, preserva sua melodia icônica, evocando a nostalgia de tempos áureos e transportando o espectador para a atmosfera da aristocracia inglesa dos anos 1920.

No entanto, se a estética permanece deslumbrante, a estrutura narrativa enfrenta dificuldades para adaptar a complexidade da série ao formato cinematográfico. O roteiro se vê sobrecarregado ao tentar abarcar múltiplas tramas simultâneas, dando a impressão de que episódios inteiros foram comprimidos em um único arco narrativo. O resultado é um desenvolvimento acelerado, que, embora dinâmico, compromete a profundidade emocional das histórias individuais. Alguns personagens, fundamentais para a trajetória da série, acabam relegados a papéis secundários, enquanto certos conflitos encontram resoluções simplistas, destoando da abordagem cuidadosa que sempre caracterizou a produção.

O ponto central da trama  — a visita da família real a Downton  — funciona como um artifício eficiente para reacender dinâmicas estabelecidas e explorar novas tensões. O embate entre os criados da casa e os empregados reais confere nuances de humor e intriga, enquanto Lady Mary, com sua postura pragmática, enfrenta questionamentos sobre o futuro da propriedade. Como esperado, Maggie Smith brilha mais uma vez no papel da mordaz Violet Crawley, com sua sagacidade intacta e sua presença magnética. Já o retorno de Mr. Carson, convocado para restaurar a ordem em meio à pompa do evento, resgata a sensação de familiaridade e pertencimento que a série sempre proporcionou.

Apesar de sua execução elegante e da inegável satisfação de reencontrar personagens tão queridos, a transposição de “Downton Abbey” para o cinema deixa a impressão de que um tempo de duração mais extenso  — ou até mesmo uma narrativa dividida em dois filmes  — permitiria um desenvolvimento mais equilibrado. O longa, por mais encantador que seja, precisa sacrificar parte da complexidade que tornava a série tão envolvente. Ainda assim, para os fãs de longa data, a experiência se mantém prazerosa, oferecendo um retorno nostálgico ao universo refinado de Downton, onde cada detalhe carrega uma história e cada diálogo ressoa com a elegância de uma época que jamais se apaga completamente da memória.

Filme: Downton Abbey
Diretor: Michael Engler
Ano: 2019
Gênero: Drama/Épico/Romance
Avaliação: 9/10 1 1
★★★★★★★★★