Desligue o cérebro: série que acaba de chegar na Netflix é fácil de maratonar em apenas um dia Divulgação / Netflix

Desligue o cérebro: série que acaba de chegar na Netflix é fácil de maratonar em apenas um dia

“Flores e Esperança” padece de um problema recorrente: a superficialidade na concepção de suas protagonistas femininas. Reduzidas a caricaturas emocionais, elas oscilam entre explosões de histeria e fragilidade excessiva, enquanto os homens, por outro lado, são retratados como ilhas de racionalidade e equilíbrio. O contraste não apenas compromete a credibilidade da história, mas empobrece qualquer possibilidade de envolvimento genuíno com as relações e os conflitos propostos.

O equívoco na caracterização feminina é ainda mais evidente quando se observa a inconsistência na construção dos personagens adolescentes. Em vez de incorporarem as ambiguidades e inseguranças que marcam essa fase da vida, os jovens da trama surgem como figuras artificialmente moldadas, distantes de qualquer senso de realidade. Essa ausência de nuances enfraquece o enredo, tornando-o previsível e desprovido de qualquer impacto emocional significativo. Os diálogos, desprovidos de frescor ou complexidade, reforçam a sensação de que a narrativa foi concebida sem um olhar atento à verossimilhança. O resultado é um universo ficcional tão desprovido de substância que se reduz a um entretenimento descartável, sem força para cativar ou provocar reflexões mais profundas.

O problema se agrava com um erro primário de escalação. A relação entre mãe e filha, elemento central da trama, torna-se pouco convincente devido à escolha das atrizes. A diferença de idade entre ambas, insuficiente para estabelecer a dinâmica familiar proposta, cria um distanciamento involuntário que dificulta a imersão do público. A caracterização falha em atenuar essa discrepância, resultando em cenas que soam artificiais e comprometem a organicidade dos vínculos apresentados. A dissonância entre intenção e execução poderia ter sido amenizada por um elenco mais coerente ou até por uma reformulação na abordagem da relação entre as personagens, mas nada disso foi considerado.

Outro ponto que merece atenção é a direção. A presença de uma mulher no comando poderia sugerir um olhar mais apurado sobre as complexidades das personagens femininas, mas a abordagem adotada escorrega em clichês e soluções simplistas. A narrativa, que poderia ser uma oportunidade para explorar conflitos genuínos e relações densas, se rende à mesmice de fórmulas exaustivamente repetidas. Em vez de desafiar convenções e aprofundar seus temas, a série se contenta em reproduzir velhos paradigmas, sem qualquer senso de inovação ou compromisso com a construção de um discurso sólido.

Diante desse panorama, fica a sensação de desperdício criativo. Quando uma produção falha em dar substância às suas personagens e opta por atalhos narrativos fáceis, o efeito imediato é a desconexão do espectador. A falta de rigor na construção da trama e na escolha do elenco transforma o que poderia ser uma experiência envolvente em um exercício de frustração. Se a ficção tem o poder de desafiar percepções e oferecer novas perspectivas, essa série abdica dessa possibilidade, resultando em uma narrativa que não apenas desaponta, mas reforça a necessidade urgente de uma evolução no modo como as histórias são concebidas e executadas.

Filme: Flores e Esperança
Diretor: Nina Swart
Ano: 2025
Gênero: Drama
Avaliação: 7/10 1 1
★★★★★★★★★★