A literatura erótica vai muito além de best-sellers como “50 Tons de Cinza”. Durante séculos, escritores lutaram pela expressão da sexualidade em suas narrativas. A Bula selecionou dez livros do gênero que fizeram escola ao longo da história da literatura. A seleção reúne grandes autores, como Henry Miller, que escreveu “Trópico de Câncer”; Anaïs Nin, autora de “Delta de Vênus”; Philip Roth, autor de “O Teatro de Sabbath”; e D. H. Lawrence, que publicou “O Amante De Lady Chatterley”, considerado um dos símbolos do erotismo literário. Além de mestres da literatura internacional, o brasileiro João Ubaldo Ribeiro também foi lembrado, com o livro “A Casa dos Budas Ditosos”, que escandalizou parte da sociedade brasileira quando foi lançado.
O romance é considerado um dos mais expressivos da literatura americana do século 20. A narrativa é centrada em Mickey Sabbath, um artista de fantoches aposentado, que entra em crise existencial após anos de um relacionamento extraconjugal com uma mulher 12 anos mais jovem. Além de sexo, outra temática bastante presente na narrativa é a morte, pois o personagem vive atormentado pela lembrança de sua mãe, do irmão que morreu na Segunda Guerra e da primeira mulher, cujo corpo nunca foi encontrado.
A novela francesa conta a história de quatro homens ricos libertinos que se trancam em um castelo inacessível durante quatro meses em busca de macabras aventuras sexuais. No local, eles encarceram 46 pessoas: As suas esposas — que também são suas filhas —, 16 adolescentes sequestrados, quatro cafetinas, oito “fodedores” e 10 serviçais. As cafetinas são convidadas a contar aventuras de suas vidas, que são usadas de inspiração para abusos sexuais e tortura. Conforme passam os dias, a situação ganha características cada vez mais perturbadoras.
O romance foi publicado originalmente em 1934, nos Estados Unidos, mas foi proibido até 1961 por ser “pornográfico” e “obsceno”. Narrado em primeira pessoa, o livro é considerado o resultado da experiência que Miller viveu em Paris à época. A trama não obedece uma sequência linear, e tem como plano de fundo os bulevares, pensões baratas, e cafés ordinários da capital da luz. Lugares frequentados por artistas e intelectuais sem dinheiro, que buscavam compensar a vida insólita com aventuras sexuais.
“A Casa dos Budas Ditosos” foi originalmente publicado na série “Pleno Pecados”, em 1999, tendo a luxuria como o seu tema central. A trama é narrada por uma mulher de 68 anos, nascida na Bahia. Ela descreve acontecimentos da própria vida e mostra em detalhes como viveu todos os prazeres que podia, dentro das infinitas possibilidades do sexo. O autor afirma que o livro foi baseado em depoimentos de uma mulher real, enviados a ele em um pacote. Além do teor sexual, críticas sociais, políticas e à igreja fizeram com que o livro escandalizasse alguns setores mais conservadores da sociedade.
A coleção de contos foi escrita na década de 1940, sob encomenda de um colecionador misterioso. As histórias se passam em cenários europeus aristocráticos, e envolvem prostitutas que satisfazem desejos inusitados de clientes, triângulos amorosos, orgias e aristocratas excêntricos. Apesar de o tema central ser a sexualidade, a narrativa não é baseada apenas nela. Sem deixar de lado o seu estilo único, Nin acrescenta sentimentos de libertação e superação às histórias, além de apenas erotismo pelo erotismo. No prefácio do livro, a autora escreve que “O sexo perde todo seu poder e sua mágica quando se torna explícito, mecânico, exagerado, quando se torna uma obsessão mecanizada”.
O livro, organizado por Flávio Moreira da Costa, faz um passeio pela história da literatura, reunindo os melhores “discursos eróticos” de todos os tempos — alguns óbvios, outros nem tão óbvios assim. A seleção é bastante plural, e inclui autores que marcaram diferentes gerações, como Gustave Flaubert, Marquês de Sade, Sacher-Masoch, Machado de Assis, Hilda Hilst, William Shakespeare, D.H. Lawrence, entre outros. O livro é indicado não apenas para quem aprecia leituras eróticas, mas também para quem tem interesse em fazer um giro na história da literatura a partir do tema.
A novela foi impressa secretamente em Florença, em 1928, e só teve a publicação autorizada no Reino Unido, onde nasceu o autor, após 1960. As cenas explícitas de sexo e utilização de palavras proibidas na época causaram um escândalo na sociedade britânica. A narrativa é centrada em Constance Chatterley, uma garota criada em uma família burguesa liberal, cujo marido parte para a guerra meses após o casamento. O homem volta para casa paralisado da cintura para baixo, e se distancia completamente de Constance. A jovem, então, inicia uma aventura sexual com um guarda-caças.
O livro é considerado por especialistas como o responsável pela inserção de Georges Bataille na lista de melhores escritores do século 20. A história é centrada em um adolescente, que narra as práticas sexuais que manteve com a namorada, Simone. Juntos, os dois realizam descobertas inusitadas do corpo, que levam a “extravagâncias sexuais”. Apesar do erotismo pungente, a história vai muito além dos temas sexo e corpo, abordando também questões mais reflexivas, ligadas à vida e a morte.
Para publicar o livro, em 1954, Anne Desclos utilizou o pseudônimo Pauline Réage. A narrativa é centrada em “O”, uma fotógrafa bem sucedida, que é levada por seu amante a um castelo, nas proximidades de Paris. No local, ela é feita escrava por ele e outros homens. Após o período no castelo, a jovem é entregue ao sr. Stephen, que compartilha a posse de “O” com o amante da garota. O novo “dono” marca a mulher a ferro quente, como um animal, e começa a submetê-la a uma série de práticas sexuais sadomasoquistas.
“A Vênus das Peles” é centrada em Severin, um jovem nobre, e Wanda, uma jovem viúva. Os dois se apaixonam perdidamente e decidem iniciar um relacionamento amoroso. No entanto, a relação foge do comum. Após discussões sobre a felicidade nas relações amorosas, Severin decide se tornar escravo sexual de Wanda, sendo amarrado e chicoteado pela amante. O jovem começa a sentir prazer com a situação de dominado e pede que a mulher se vista com roupas de animais. O prazer em sentir dor e humilhação descrito pelo autor acabou cunhado o termo “masoquismo”, que deriva justamente de seu sobrenome.