491 no TOP10 mundial: obra-prima indicada a 3 Oscars é tesouro para inteligentes, na Max Divulgação / Imperative Entertainment

491 no TOP10 mundial: obra-prima indicada a 3 Oscars é tesouro para inteligentes, na Max

Ruben Östlund, cineasta acostumado a desestabilizar convenções, retorna com “Triângulo da Tristeza”, um estudo mordaz sobre as engrenagens da hierarquia social e os excessos da elite. Em tempos em que narrativas seguras e produtos reciclados dominam as telas, o diretor sueco se distancia da previsibilidade e entrega um filme que desafia, provoca e desorienta, convidando o espectador a encarar, sem filtros, a farsa que sustenta estruturas de privilégio. A crueza com que expõe as relações de poder e a efemeridade do status social faz do longa um espelho incômodo da sociedade contemporânea.

Dividido em três atos, o enredo acompanha o casal de modelos Carl (Harris Dickinson) e Yaya (Charlbi Dean, em sua última performance), que transitam entre a ostentação e a superficialidade do mundo da moda. A primeira parte do filme revela a fragilidade da masculinidade de Carl diante da independência financeira de Yaya, um jogo de poder travestido de relação romântica. A essência da narrativa, no entanto, se revela quando os protagonistas embarcam em um cruzeiro de luxo repleto de magnatas, oligarcas e herdeiros que personificam o excesso e a desconexão com a realidade.

Nesse microcosmo de opulência, a ilusão de ordem desmorona aos poucos, catalisada pela presença de um capitão anarquista (Woody Harrelson), cuja apatia e sarcasmo apenas ampliam o caos latente. O ápice dessa degradação se dá no famigerado jantar do capitão, um espetáculo grotesco em que a turbulência marítima transforma um banquete requintado em um festival de vômito e desespero. Östlund, com sua predileção pelo desconforto, não apenas satiriza o grotesco, mas o transforma em uma experiência sensorial intensa, evocando a brutalidade de obras como “A Comilança” e “O Sentido da Vida”.

Se a direção e a estética do filme demonstram um refinamento impecável, o mesmo não pode ser dito sobre a insistência na repetição de ideias. Östlund é um cineasta que se alimenta da insistência, reiterando críticas às elites e ao vazio do capitalismo contemporâneo, mas em alguns momentos o filme perde força por martelar demasiadamente seus pontos. O terceiro ato, situado em uma ilha deserta após o naufrágio, traz uma inversão de papéis ao colocar os outrora poderosos à mercê de Abigail (Dolly De Leon), funcionária subestimada que, por suas habilidades práticas, assume o controle da nova ordem social improvisada. De Leon brilha ao dar profundidade a uma personagem que poderia ser reduzida a um simples arquétipo, revigorando a narrativa com sua presença magnética. No entanto, mesmo essa reviravolta é prolongada em demasia, diluindo o impacto do clímax.

Do ponto de vista técnico, “Triângulo da Tristeza” é inegavelmente sofisticado. A cinematografia explora com inteligência os espaços confinados do iate, contrastando-os com a vastidão do oceano, reforçando visualmente a iminente ruína dos personagens. O elenco se entrega às nuances do roteiro, com destaques para Zlatko Buric como um magnata russo caricato e Harris Dickinson, cuja performance oscila entre o cínico e o vulnerável. Charlbi Dean, em sua derradeira aparição nas telas, imprime um ar enigmático à sua Yaya, tornando-a mais do que apenas um retrato da superficialidade da moda.

Östlund não se contenta em apenas expor a hipocrisia da classe dominante, ele a leva ao limite do absurdo, obrigando seu público a rir do que deveria ser repugnante. No entanto, ao investir tão pesadamente na crítica, corre o risco de transformar sua própria narrativa em uma fórmula previsível, algo paradoxal para um cineasta que se propõe a desafiar convenções. “Triângulo da Tristeza” não deixa de ser um feito cinematográfico ambicioso e impactante, mas sua maior ironia talvez esteja no fato de que, ao escancarar as fraquezas da elite, ele também expõe os limites de sua própria abordagem.

Filme: Triângulo da Tristeza
Diretor: Ruben Östlund
Ano: 2022
Gênero: Comédia/Drama
Avaliação: 9/10 1 1
★★★★★★★★★