Em 2007, Todd Haynes lançou “Não Estou Lá”, filme que reúne diversos atores interpretando Bob Dylan em diferentes fases de sua vida. A figura de Dylan é igualmente enigmática e charmosa, e, ainda que não seja carismática, exerce um fascínio inquestionável sobre gerações ao longo de mais de seis décadas. É unanimidade que ele é uma das figuras mais autênticas da cultura contemporânea. Com uma habilidade singular, traduziu as inquietações da existência, do amor e da sociedade, entrelaçando-as em versos que expõem, com maestria, as falhas do capitalismo e as complexidades da condição humana.
Vencedor do Prêmio Nobel de Literatura, Dylan encontra na espontaneidade das emoções e na simplicidade das palavras a essência de sua arte. Sua música é um reflexo direto de sua alma, explorando harmonias e estruturas de acordes que trazem profundidade a cada canção. Seu talento raro foi e continua sendo amplamente reconhecido, como demonstram os inúmeros prêmios e aclamações que colecionou ao longo da carreira.
Neste ano, “Um Completo Desconhecido”, dirigido por James Mangold, revive o legado de Dylan com uma abordagem sensível e envolvente. Timothée Chalamet entrega uma interpretação discreta, mas profundamente autêntica, capturando a introspecção e a genialidade do músico com uma intensidade comovente. Se a performance de Rami Malek como Freddie Mercury em “Bohemian Rhapsody” — apesar do Oscar de Melhor Ator — foi criticada por sua caricatura e falta de naturalidade, Chalamet reafirma que talento e reconhecimento nem sempre caminham juntos, protagonizando uma das maiores injustiças do Oscar 2025, premiação que se afunda cada vez mais em sua própria falta de credibilidade.
Edward Norton também se destaca como Pete Seeger, um dos pilares na ascensão musical de Dylan. O filme traz diversas figuras conhecidas, todas interpretadas com tamanha delicadeza que é impossível não se emocionar. Mangold conduz a narrativa com precisão e sensibilidade, guiando elenco e equipe técnica por uma história que transpira autenticidade. Até mesmo as passagens dramatizadas para efeito narrativo mantêm-se coerentes com o espírito da obra, sem jamais comprometer a veracidade essencial dos acontecimentos.
Com uma fotografia que resgata a atmosfera vibrante dos anos 1960, “Um Completo Desconhecido” passou por um extenso período de preparação antes de chegar às telas. A dedicação de Chalamet em aperfeiçoar suas habilidades musicais para o papel demonstra seu comprometimento em oferecer uma interpretação fidedigna e envolvente. Elle Fanning dá vida a Sylvie Russo, um pseudônimo para Suze Rotolo, musa de Dylan e responsável por introduzi-lo ao pensamento político que marcaria sua obra. O nome foi alterado a pedido do próprio Dylan, em respeito à memória de Rotolo.
“Um Completo Desconhecido” é uma obra-prima que, sem dúvida, terá uma longevidade superior à de muitos filmes premiados em 2025. Com inteligência, beleza e um olhar artístico apurado, reafirma o poder do cinema quando este se propõe a contar histórias com verdade e paixão.
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