Deliciosa comédia romântica para quem ama Jane Austen e “Bridgeton”, na Netflix Divulgação / Netflix

Deliciosa comédia romântica para quem ama Jane Austen e “Bridgeton”, na Netflix

Ao longo das décadas, adaptações de clássicos literários sempre provocaram debates acalorados entre os puristas e aqueles que apreciam reinterpretações ousadas. “Persuasão”, romance de Jane Austen, tornou-se mais uma obra a dividir opiniões com sua versão mais recente, que propõe um diálogo direto entre o passado e a contemporaneidade. O filme, estrelado por Dakota Johnson, mantém a essência do enredo original, mas opta por uma abordagem estilística distinta, inserindo elementos modernos tanto na linguagem quanto na estética. Essa escolha, embora controversa para alguns, se mostra uma tentativa legítima de conectar Austen a novas gerações sem comprometer a integridade narrativa do romance.

O filme entra em uma longa tradição de adaptações de época, que variam entre fidelidade absoluta ao material de origem e releituras modernizadas. Para muitos fãs, o charme de produções como “Razão e Sensibilidade” (1995), “Emma” (1996, 2009) e “Jane Eyre” (2011) está justamente na preservação do rigor estilístico e da ambientação clássica. Por outro lado, obras como “Patricinhas de Bervely Hills” e “Fire Island: Orgulho & Sedução” demonstram que há espaço para experimentações que transportam narrativas consagradas para novas roupagens. A versão recente de “Persuasão” parece buscar um equilíbrio entre essas abordagens: moderniza a comunicação entre os personagens, adota um tom mais irreverente e recorre a elementos visuais contemporâneos, mas preserva o arco dramático fundamental da história de Anne Elliot e seu amor reencontrado.

Entre os aspectos mais discutidos da adaptação, destaca-se a quebra da quarta parede, um recurso que confere ao filme um tom confessional e direto, permitindo que Anne compartilhe suas frustrações e reflexões com o público. Dakota Johnson, cuja atuação foi amplamente elogiada, imprime à protagonista uma vivacidade que contrasta com a tradicional melancolia da personagem no livro. Sua performance equilibra sagacidade e vulnerabilidade, conferindo à heroína uma camada adicional de identificação com um público acostumado a narrativas mais dinâmicas. Essa abordagem reflete um esforço consciente do roteiro em traduzir a complexidade emocional do romance de Austen para uma linguagem mais acessível e contemporânea.

Para os apreciadores mais rígidos da literatura de Austen, a transformação do diálogo original para um registro moderno pode soar como uma afronta ao refinamento da prosa da autora. No entanto, o filme se sustenta em escolhas narrativas bem planejadas, apoiadas por uma cinematografia cuidadosa, uma edição ágil e um elenco que, em sua maioria, entrega atuações consistentes. Há, sem dúvida, um esforço deliberado em tornar “Persuasão” mais palatável para um público que pode não estar familiarizado com as nuances da literatura do século 19, sem, no entanto, esvaziar sua essência.

O resultado final não é uma adaptação convencional, mas tampouco um distanciamento radical do material original. Em meio a uma filmografia extensa de obras derivadas de Austen, esta versão se insere como uma proposta diferenciada, que pode não agradar a todos, mas cumpre seu propósito ao apresentar a atemporalidade das emoções humanas sob uma ótica renovada. Afinal, o verdadeiro teste de uma adaptação não está na sua fidelidade absoluta, mas na sua capacidade de preservar o espírito da história, tornando-a relevante para diferentes públicos ao longo do tempo.

Filme: Persuasão
Diretor: Carrie Cracknell
Ano: 2022
Gênero: Comédia/Drama/Romance
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★