No extenso catálogo de filmes de ação centrados em assassinos profissionais, poucos conseguem equilibrar brutalidade estilizada com personagens minimamente cativantes. “Profissional” coloca Maggie Q no centro da trama e se sobressai nesse cenário saturado, trazendo uma protagonista experiente e um antagonista inesperadamente carismático, interpretado por Michael Keaton. Dirigido por Martin Campbell, o filme abraça a tradição do thriller de vingança, entregando sequências de ação coreografadas com precisão, embora tropece em clichês narrativos que comprometem sua originalidade.
A trama segue Anna (Maggie Q), uma assassina treinada desde a infância por seu mentor Moody (Samuel L. Jackson). Quando ele é assassinado sob circunstâncias misteriosas, Anna parte em uma jornada de vingança que a leva ao Vietnã, onde as peças do quebra-cabeça começam a se encaixar. A busca pelo mandante do crime a coloca no caminho de Edward Hayes (David Rintoul), um mafioso que forjou a própria morte para proteger o filho de sua rede criminosa. Contudo, a verdadeira ameaça se manifesta através de seu braço direito, Michael Rembrandt (Michael Keaton), cuja relação ambígua com Anna adiciona um componente de tensão inesperado à narrativa. O embate entre os dois é um dos aspectos mais envolventes da obra, atraindo pela química afiada entre os atores.
A ação, elemento central da experiência, é conduzida com competência por Campbell. As cenas de luta são intensas e, em alguns momentos, visceralmente brutais, como na sequência em que Anna, capturada por Duquet (Ray Feron), utiliza um lençol para subjugá-lo e escapar. A fluidez dos combates e o impacto visual das coreografias são pontos altos, ainda que a dependência de dublês seja evidente em determinados momentos. A brutalidade da luta final entre Anna e Rembrandt leva a tensão ao extremo, consolidando a narrativa no espectro dos thrillers de ação contemporâneos.
Porém, a estrutura do filme apresenta fragilidades. A inserção de flashbacks que remontam à infância de Anna, revelando sua primeira experiência como assassina, busca humanizar a protagonista, mas não aprofunda seu arco dramático de maneira substancial. Da mesma forma, subtramas como a busca pelo filho de Edward Hayes se arrastam sem oferecer um impacto significativo, prejudicando o ritmo da história. Há uma sensação de que certos elementos narrativos foram incluídos apenas para alongar o tempo de duração, sem justificar sua presença dentro do contexto maior da trama.
Apesar dessas ressalvas, a performance de Michael Keaton se mostra uma grata surpresa. Acostumado a papéis mais convencionais, ele incorpora Rembrandt com uma mistura de sofisticação e letalidade que contrasta com a abordagem direta de Anna. Os diálogos entre os dois são carregados de sarcasmo e tensão, elevando a dinâmica entre protagonista e antagonista para além da previsibilidade habitual do gênero. A interação entre Keaton e Maggie Q se destaca como um dos elementos mais memoráveis do filme.
O longa, no entanto, não escapa da comparação com produções que o precederam. O conceito da assassina em busca de redenção ou vingança remete diretamente a “Nikita — Criada para Matar”, de Luc Besson, que praticamente definiu o arquétipo da mulher fatal no cinema de ação moderno. A estética do filme, marcada por cenários soturnos e uma atmosfera de perigo constante, evoca a tradição dos thrillers noir, ainda que sem a sofisticação visual que poderia diferenciá-lo. O resultado é um híbrido entre o cinema de ação contemporâneo e as raízes dos filmes de exploitation dos anos 1970, mas sem o mesmo impacto de suas referências.
O filme entrega uma experiência competente dentro de seu gênero, sustentada por um elenco sólido e sequências de ação bem executadas. Contudo, sua insistência em certos clichês e a falta de um desenvolvimento mais profundo da protagonista impedem que se eleve acima de outras produções semelhantes. Para os fãs de ação, há diversão suficiente, mas para quem busca uma abordagem inovadora, talvez o filme não ofereça nada além do esperado.
★★★★★★★★★★