Com Kerry Washington, drama de guerra da Netflix indicado ao Oscar 2025 é filme que você precisa assistir Laura Radford / Perry Well Films 2

Com Kerry Washington, drama de guerra da Netflix indicado ao Oscar 2025 é filme que você precisa assistir

A Segunda Guerra Mundial rendeu incontáveis relatos transformados em ficção cinematográfica, mas poucos abordaram com propriedade a contribuição de mulheres negras no esforço de guerra. “6888” busca corrigir essa lacuna ao retratar a história do único batalhão exclusivamente composto por mulheres negras no Exército dos Estados Unidos, cuja missão foi organizar e distribuir toneladas de correspondência acumulada para soldados no front. No entanto, apesar da relevância histórica do tema, a narrativa falha em explorar com profundidade os desafios e méritos das protagonistas, entregando um tributo emocionado, mas estruturalmente limitado.

A correspondência militar era mais do que simples papel; era um laço vital entre os soldados e suas famílias, um refúgio emocional em meio à brutalidade da guerra. O filme acerta ao destacar a pressão sobre as mulheres do 6888, confrontadas não apenas com o volume monumental de cartas atrasadas, mas também com o racismo e o sexismo sistêmicos que permeavam o exército. Contudo, a produção peca ao minimizar um dos aspectos mais notáveis dessa história: a eficiência impressionante do batalhão. Designadas para uma missão que deveria durar seis meses, essas mulheres conseguiram concluí-la em apenas três — um feito extraordinário, mas tratado de maneira superficial na narrativa. A ausência de um olhar detalhado sobre os métodos e estratégias utilizadas priva o espectador da dimensão real do impacto dessas personagens.

O contraste com “Estrelas Além do Tempo” é inevitável. Enquanto o filme sobre as matemáticas negras da Nasa consegue equilibrar perfeitamente a humanização das personagens com um aprofundamento técnico que evidencia sua genialidade, “6888” se contenta em reforçar o peso simbólico da presença dessas mulheres, sem mergulhar na complexidade do trabalho que realizaram. Essa escolha resulta em uma narrativa que reconhece a importância histórica do batalhão, mas não explora seu diferencial com o rigor necessário para transformar um bom filme em um grande filme.

A recepção do público reflete essa dualidade. Se, por um lado, muitos enxergam a produção como um resgate essencial de um capítulo esquecido da história, por outro, não faltam críticas sobre sua abordagem superficial. A polarização nas avaliações iniciais — com uma incidência notável de notas baixíssimas — sugere que o preconceito contra narrativas protagonizadas por mulheres negras ainda persiste. Conforme o volume de resenhas cresceu, a média se estabilizou, refletindo um reconhecimento de que, apesar das deficiências estruturais, o filme carrega um peso histórico inegável.

A cereja do bolo da produção está na forma como captura os laços construídos entre as integrantes do batalhão e o impacto humano de sua missão. O filme acerta ao retratar os desafios que essas mulheres enfrentaram não apenas no campo militar, mas também na sociedade que insistia em subestimá-las. A inclusão de imagens reais do batalhão nos créditos finais adiciona uma camada de autenticidade, reforçando a importância do que foi contado, ainda que de maneira incompleta.

“6888” é, sem dúvida, um filme que merece ser visto e discutido. Sua existência contribui para um necessário resgate histórico, mas sua execução poderia ter sido mais ambiciosa. A ausência de um mergulho profundo na inteligência e estratégia das protagonistas impede que o filme atinja todo o seu potencial. Para aqueles que desejam um retrato mais minucioso da trajetória do batalhão, livros e registros históricos oferecem um panorama mais rico. Ainda assim, a produção abre um espaço essencial para a valorização dessas mulheres, garantindo que sua contribuição não seja mais um capítulo esquecido pela história.

Filme: Batalhão 6888
Diretor: Tyler Perry
Ano: 2024
Gênero: Aventura/Drama/Guerra
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★