Ainda dá tempo de relaxar! Aproveite o último dia do feriado com essa comédia deliciosa na Netflix Divulgação / Netlix

Ainda dá tempo de relaxar! Aproveite o último dia do feriado com essa comédia deliciosa na Netflix

Nos tempos áureos das comédias românticas, filmes como “Como Perder um Homem em 10 Dias”, “O Amor Não Tira Férias” e “Alguém Tem que Ceder” se tornaram marcos do gênero, conquistando uma legião de fãs e garantindo seu espaço eterno nas telas de salões de beleza e tardes preguiçosas de Netflix. “Na Sua Casa ou na Minha?”, dirigido por Aline Brosh McKenna, tenta resgatar essa atmosfera nostálgica, mas se contenta em ser apenas um passatempo confortável, sem a mesma astúcia ou carisma dos clássicos que homenageia. Ainda que traga reflexões sobre amadurecimento, paternidade e as escolhas que moldam nossas vidas, sua narrativa previsível e sua execução genérica fazem dele uma experiência esquecível, apesar do potencial contido em sua premissa e no talento de seus protagonistas, Reese Witherspoon e Ashton Kutcher.

O filme acompanha Debbie e Peter, amigos há duas décadas após uma noite juntos que nunca se repetiu. Ela, uma mãe solteira metódica e superprotetora, vive em Los Angeles, abandonando seu sonho de trabalhar com literatura para buscar estabilidade. Ele, um bem-sucedido executivo nova-iorquino, tem tudo que o dinheiro pode comprar, mas nada que realmente importe: sua casa é fria e impessoal, suas relações são fugazes e seu verdadeiro desejo — ser escritor — foi soterrado pelas exigências da vida corporativa. A amizade improvável entre os dois se mantém firme por anos, sustentada por trocas diárias de mensagens e chamadas, mas nunca com a profundidade suficiente para convencer o espectador de que essa conexão transcende a superfície. McKenna nos diz que eles são melhores amigos, mas suas interações raramente traduzem a cumplicidade e a intimidade que um laço tão duradouro deveria carregar.

A trama se desenrola quando Debbie precisa passar uma semana em Nova York para um curso, e Peter, em um gesto impulsivo, se oferece para cuidar do filho dela, Jack. Essa troca de lares — um dos artifícios mais batidos das comédias românticas — é o catalisador para a transformação de ambos. Jack, antes controlado pela mãe, experimenta uma nova liberdade sob a supervisão relaxada de Peter, inscrevendo-se em um time de hóquei e descobrindo pequenos prazeres proibidos. Peter, por sua vez, é forçado a se responsabilizar por alguém além de si mesmo, um aprendizado que chega tarde, mas pelo menos lhe oferece alguma profundidade emocional. Enquanto isso, Debbie se permite uma pequena aventura romântica com Theo, um charmoso editor que não apenas a faz sentir-se desejada, mas também se torna a peça-chave para a realização de um antigo sonho de Peter: a publicação de seu livro.

Porém, ainda que essa troca de experiências tenha implicações interessantes sobre amadurecimento e sobre as zonas de conforto que nos aprisionam, o roteiro escorrega ao tratar essas descobertas com superficialidade. O crescimento dos personagens se dá por caminhos fáceis e, muitas vezes, banais, privando o filme de um impacto emocional genuíno. O romance central, que deveria ser o grande fio condutor da história, sofre com a falta de química entre os protagonistas. Witherspoon e Kutcher são carismáticos individualmente, mas suas interações são mecânicas, prejudicadas pela decisão do roteiro de mantê-los separados durante a maior parte do tempo. O que poderia ser uma tensão palpável entre amigos que, no fundo, sempre se amaram, se torna apenas um jogo morno de autodescoberta, sem a faísca essencial para fazer o público torcer por eles.

A direção de McKenna também não colabora para elevar o material. O uso excessivo de tela verde dá um aspecto artificial aos cenários, e a escolha de inserir elementos visuais datados — como cards explicativos e referências estilísticas à virada do milênio — mais distrai do que acrescenta. Além disso, o filme recai em estereótipos de gênero desgastados: a mulher cuidadora e responsável, que abdica de seus sonhos para criar um filho, e o homem charmoso e infantilizado, incapaz de manter relações profundas até que uma situação inesperada o force a amadurecer. Em 2023, esperaríamos um pouco mais de originalidade nesse tipo de construção.

Ainda assim, “Na Sua Casa ou na Minha?” não é um fracasso completo. Sua proposta de ser um ‘comfort movie’ funciona dentro do que se propõe. Há personagens secundários que roubam a cena, como a ácida Tig Notaro e a vibrante Zoe Chao, e alguns momentos que remetem ao charme das comédias românticas do passado. Mas, ao final, sua previsibilidade o impede de ser memorável. O filme nos lembra que, às vezes, passamos tanto tempo conformados com o que nos é familiar que esquecemos de questionar se é isso mesmo que queremos. Porém, ao invés de explorar esse dilema com profundidade, contenta-se em oferecer respostas fáceis, um desfecho açucarado e uma experiência segura demais para deixar qualquer marca duradoura.

Filme: Na Sua Casa ou na Minha?
Diretor: Aline Brosh McKenna
Ano: 2023
Gênero: Comédia/Romance
Avaliação: 7/10 1 1
★★★★★★★★★★