Uma das histórias mais amadas de todos os tempos: o filme francês mais caro de 2024 acaba de chegar ao Prime Video Divulgação / Paris Films

Uma das histórias mais amadas de todos os tempos: o filme francês mais caro de 2024 acaba de chegar ao Prime Video

Refletindo sobre a natureza da honra, São Tomás de Aquino (1225-1274) argumentava que sem ela o homem se distancia irremediavelmente da felicidade, pois a ausência de retidão compromete qualquer noção de bem e mal. A ideia de contentamento dissociado da honra se revela um paradoxo, pois esse sentimento pode assumir diferentes formas — alívio, idealização ou ilusão —, mas nunca a verdadeira felicidade. Contudo, a honradez só se manifesta plenamente quando há quem a reconheça naquele que a reivindica. É sobre esse embate entre dignidade e reconhecimento que Alexandre de La Patellière e Matthieu Delaporte constroem sua adaptação de “O Conde de Monte Cristo”, equilibrando filosofia e cenas de ação que mantêm o público em estado de alerta.

A dupla de cineastas franceses revitaliza o romance escrito em 1846 por Alexandre Dumas (1802-1870) e Auguste Maquet (1813-1888), conferindo-lhe uma autenticidade histórica que diferencia esta versão de outras tentativas, como a produção de Kevin Reynolds em 2002. O diferencial de La Patellière e Delaporte reside no compromisso rigoroso com o contexto histórico aliado aos avanços tecnológicos, explorando as ferramentas modernas sem perder de vista a essência da narrativa. A formação de Delaporte em História e Ciências Políticas certamente influenciou a concepção do longa, que se distancia da tendência repetitiva dos remakes para firmar-se como um novo marco dentro dessa tradição.

A jornada se inicia em meio a uma tempestade, metáfora precisa para o caos da vida, onde o ser humano, por vezes, precisa se apegar ao que há de mais sombrio para resistir à impiedade do mundo. Um navio em chamas, uma jovem em perigo e um marinheiro disposto a desobedecer ordens para salvá-la — esse é Edmond Dantès, cuja bravura o coloca em rota de colisão com Danglars, capitão interpretado por Patrick Mille. Esse gesto, que deveria ser um triunfo, desencadeia sua ruína.

A trama avança mostrando um Dantès enaltecido, promovido a capitão e prestes a se casar com a rica Mercédès. No entanto, o desfecho dessa ascensão é abrupto: no dia da cerimônia, ele é capturado a mando de Gérard de Villefort, um promotor corrupto que o acusa falsamente de espionagem. Laurent Lafitte encarna um dos grandes antagonistas da obra, ampliando o leque de vilões dumasianos e elevando o enredo para além da simples perfídia, adentrando o território da psicopatia pura, marcada por atos de brutalidade destinados a destruir Dantès não apenas fisicamente, mas moralmente. A prisão, no entanto, se transforma para o protagonista em um espaço de aprendizado, onde, sob a tutela do abade Faria, ele descobre meios para sua libertação e a promessa de uma fortuna esquecida.

Ao recuperar sua liberdade, Dantès assume o título que dá nome à história e inicia um meticuloso plano de vingança contra aqueles que o traíram: Danglars, De Villefort e Fernand de Morcerf, agora marido de Mercédès. O tempo passa, e o personagem evolui, ganhando diferentes nuances conforme sua trajetória se desenrola. Pierre Niney e Thomas Borchert se revezam na interpretação de Dantès, destacando facetas variadas de sua personalidade que emergem e se dissipam à medida que sua vingança se aproxima da consumação.

La Patellière e Delaporte recuperam elementos narrativos que já haviam trabalhado no roteiro das adaptações de Martin Bourboulon para “Os Três Mosqueteiros” e, dessa vez, colocam Dantès diante de suas próprias contradições e fragilidades. A nova leitura de “O Conde de Monte Cristo” mantém a essência provocadora e mordaz de Dumas, enriquecida pela estética meticulosa da fotografia de Nicolas Bolduc e dos figurinos de Thierry Delettre, que contribuem para a grandiosidade da obra sem jamais sobrepor-se à potência da história. Ainda que o enredo, por si só, já carregue um peso monumental, cada detalhe visual reforça sua imponência e reforça a atemporalidade dessa jornada de redenção e justiça.

Filme: O Conde de Monte Cristo
Diretor: Matthieu Delaporte e Alexandre de La Patellière
Ano: 2025
Gênero: Drama/Épico
Avaliação: 9/10 1 1
★★★★★★★★★