A assinatura de Luc Besson na produção cinematográfica é marcada por um estilo distinto, visceral e frequentemente exagerado, e em “Colombiana: Em Busca de Vingança” essa marca é claramente perceptível. Originalmente concebido como uma continuação indireta do icônico “O Profissional”, o filme carrega muito dos traços característicos do diretor e produtor francês: personagens femininas fortes, sensuais e letais, motivadas pela vingança e apresentadas em uma trama impregnada de violência estilizada, que varia entre explosões catárticas, tiroteios frenéticos e artes marciais coreografadas com precisão quase cirúrgica. Assim nasce Cataleya Restrepo, personagem vivida pela talentosa Zoe Saldana, cuja jornada começa na infância, em um cenário brutal na Colômbia, testemunhando a execução impiedosa de seus pais por um poderoso chefe do crime.
Desde sua impactante cena inicial, dirigida pelo competente Olivier Megaton — que sabiamente escolhe manter a violência fora de quadro e focar exclusivamente no rosto infantil atormentado de Cataleya (interpretada com maturidade surpreendente pela jovem Amandla Stenberg) —, o filme define com clareza sua proposta emocional e dramática. Essa abordagem empática, reforçada por uma melancólica trilha sonora de música clássica, estabelece um alicerce sólido para a trajetória emocional da personagem. Após sobreviver milagrosamente, Cataleya foge pelos telhados das favelas colombianas, deslizando pelos esgotos da cidade e emergindo em uma nova vida nos Estados Unidos, onde é acolhida por seu tio Emilio (Cliff Curtis), um mentor severo que aceita treiná-la como assassina profissional, com uma única condição: que ela jamais negligencie sua formação intelectual.
O salto temporal de quinze anos transforma Cataleya em uma assassina elegante e implacável, cujas vestimentas justas — ora roupas de látex que evidenciam sua figura sensual e fatal, ora shorts e tops casuais — ajudam a reforçar a dualidade da personagem: fria e calculista ao executar suas missões, mas sempre perturbada pelo vazio da perda familiar. O roteiro, embora inicialmente concebido para outro projeto, ajusta-se perfeitamente à fórmula Bessoniana: a protagonista busca vingança contra aqueles que destruíram sua vida, marcando seus assassinatos com o símbolo poético e mórbido de uma flor cataleya desenhada com batom nas vítimas, o que naturalmente atrai a atenção das autoridades, como o FBI, e também coloca em risco aqueles poucos com quem mantém algum tipo de vínculo emocional, incluindo um relacionamento amoroso superficial com um pintor vivido por Michael Vartan.
Se a narrativa segue um caminho relativamente conhecido e se permite algumas facilidades em relação aos detalhes da trama — por exemplo, nunca esclarecendo plenamente as razões exatas do assassinato dos pais de Cataleya —, a direção de Megaton garante um ritmo vibrante e ágil, tipicamente encontrado nos filmes produzidos por Besson. Usando uma estética visual granulada e uma edição frenética, as sequências de ação do filme atingem seu ápice em momentos memoráveis, como uma luta visceral que redefine o termo “apanhar com a pistola” e uma elaborada cena em uma piscina de vidro cheia de tubarões sob o luar, mostrando uma criatividade visual que compensa, em grande parte, a previsibilidade do roteiro.
Outro fator essencial que eleva a obra além do lugar-comum é a performance magnética de Zoe Saldana, que empresta uma intensidade emocional genuína à personagem, combinando uma sexualidade controlada com uma vulnerabilidade emocional sutil, capaz de tornar eletrizantes até mesmo as passagens mais batidas do gênero. Da mesma forma, Amandla Stenberg surpreende positivamente ao conferir profundidade dramática e autenticidade ao sofrimento infantil de Cataleya, estabelecendo uma conexão empática com o público e preparando o terreno para a força dramática adulta da personagem principal.
O filme se sustenta firmemente como puro entretenimento, preenchido por tiroteios explosivos, perseguições vertiginosas e um glamour violento que é marca registrada das obras anteriores de Luc Besson, como “Nikita”, “Lucy” e o próprio “O Profissional”. Essa combinação de adrenalina, vingança pessoal e uma protagonista feminina poderosa garante ao público uma experiência cinematográfica vibrante e catártica. E embora apresente algumas fragilidades narrativas, especialmente na motivação central, o impacto visual, emocional e dramático de “Colombiana: Em Busca de Vingança” permanece incontestável, deixando clara a vocação singular de Besson em transformar histórias de mulheres fatais e implacáveis em entretenimento pulsante e eletrizante.
★★★★★★★★★★