Desde o primeiro instante, “Alerta de Spoiler” estabelece seu tom ao expor, sem rodeios, o destino de sua história. No entanto, não é o desfecho anunciado que sustenta a narrativa, mas a trajetória autêntica dos protagonistas. Inspirado nas memórias de Michael Ausiello, o filme acompanha treze anos da relação entre Michael (Jim Parsons) e Kit (Ben Aldridge), explorando os desafios e transformações de um amor submetido às imprevisibilidades da vida. A estrutura em retrospectiva inicia-se com Kit no hospital e, a partir dali, reconstrói os momentos que definiram essa conexão, do encantamento inicial às adversidades inevitáveis.
O diferencial da obra não reside em inovações narrativas, mas na honestidade com que retrata a complexidade das relações. O roteiro evita romantizações fáceis e aposta em um retrato realista do cotidiano a dois, contemplando desde a fase inicial de fascínio até os momentos de distanciamento e crise. Michael, metódico e introspectivo, encontra em Kit um contraponto de espontaneidade e segurança, uma dinâmica que, a princípio, fortalece a ligação entre eles, mas também revela desafios ao longo do tempo. Mais do que um drama romântico, o longa investiga as inseguranças individuais, os dilemas da convivência e a forma como a doença de Kit redefine os contornos dessa história compartilhada.
Jim Parsons surpreende ao se distanciar da figura cômica que o tornou conhecido, entregando um Michael introspectivo, vulnerável e autêntico. Ben Aldridge, por sua vez, imprime a Kit um carisma magnético e uma naturalidade que tornam seu percurso ainda mais impactante. A química entre os dois atores é palpável, sustentada por um roteiro que transita habilmente entre momentos de leveza e dor. O tom agridoce do filme se destaca pela ausência de exageros melodramáticos, priorizando uma abordagem sincera das relações LGBTQIA+, sem artificiais idealizações.
Ainda que o filme se mantenha envolvente por sua autenticidade emocional, alguns de seus elementos estilísticos nem sempre se integram organicamente à narrativa. Sequências que remetem à infância de Michael como espectador de sitcoms adicionam uma camada lúdica, mas ocasionalmente destoam do restante da trama. Além disso, a própria construção do relacionamento central levanta questionamentos: embora a conexão entre os protagonistas seja palpável, os momentos de afastamento e traição introduzem uma fragilidade que relativiza a força do vínculo. A reconciliação final, mais impulsionada pela doença do que por uma resolução autêntica dos conflitos, pode reduzir o impacto emocional pretendido.
Apesar dessas inconsistências, “Alerta de Spoiler” se sustenta na força de suas performances e na sinceridade com que retrata os altos e baixos das relações. Seu grande mérito é equilibrar leveza e melancolia sem recorrer a exageros, apresentando um amor que, longe de ser idealizado, se constrói sobre imperfeições e reconfigurações constantes. Não é um conto de fadas trágico, mas um relato honesto sobre a resiliência dos laços humanos diante da inevitabilidade do tempo.
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