“Emily, a Criminosa” surge como um sopro de autenticidade ao unir tensão e crítica social em uma trama de impacto inegável. Aubrey Plaza, em uma interpretação contida e implacável, dá vida a uma personagem que não se contenta em ser refém de um sistema excludente. Emily, sufocada por dívidas estudantis e um mercado de trabalho implacável, encontra-se à margem de um mundo que lhe nega qualquer chance de redenção. Movida pelo desespero, ela adentra o submundo dos esquemas fraudulentos, não como uma vítima ingênua, mas como alguém que enxerga naquele universo a única possibilidade concreta de retomada do controle sobre sua própria existência.
A trama se desenrola com uma precisão cirúrgica, explorando a jornada de Emily sem apelar para heroísmos fáceis ou explicações didáticas. Sua relação com Yusuf, interpretado com carisma discreto por Theo Rossi, adiciona camadas de complexidade ao roteiro, oferecendo um contraste entre a experiência pragmática de um criminoso calejado e a determinação fria de uma iniciante cuja moralidade é maleável diante das circunstâncias. A dinâmica entre os dois personagens ressoa em uma tensão latente, evocando a urgência frenética que permeia filmes como “Joias Brutas”. Contudo, enquanto a obra dos irmãos Safdie mergulha no caos ininterrupto, “Emily, a Criminosa” constrói sua angústia de forma gradual, permitindo que a protagonista evolua sem perder a coerência de suas motivações.
Visualmente, o filme se distancia de estéticas polidas e artificiais, optando por uma abordagem mais visceral. A cinematografia utiliza planos fechados e iluminação naturalista para criar uma sensação de intimidade quase sufocante, remetendo à abordagem realista de “Bom Comportamento” e à crueza atmosférica de “Liberdade Condicional”. Essa escolha reforça a ideia de que a história não é apenas um thriller de sobrevivência, mas uma observação precisa das desigualdades estruturais que moldam o destino de milhões de pessoas. A trilha sonora, discreta e calculada, pulsa no ritmo das decisões de Emily, sublinhando sua transformação sem recorrer a sentimentalismos.
Em sua essência, “Emily, a Criminosa” não busca redimir sua protagonista nem vilanizá-la gratuitamente. O filme compreende que, em uma sociedade que exige sacrifícios desumanos para concessões mínimas, a linha entre o certo e o errado é frequentemente ditada pela necessidade. Aubrey Plaza entrega uma performance que transcende qualquer estereótipo, oferecendo um retrato de uma mulher cuja força reside na recusa em ser reduzida a uma nota de rodapé em seu próprio destino. Se algumas nuances do roteiro poderiam ser mais aprofundadas, a contundência da narrativa e a precisão da direção compensam qualquer brecha. Com isso, o longa se insere no panteão das grandes histórias contemporâneas sobre sobrevivência e resistência, reafirmando que, no cinema, a ousadia ainda tem espaço para florescer.
★★★★★★★★★★