A recriação de eventos históricos no cinema exige um equilíbrio delicado entre autenticidade factual e narrativa envolvente, e “Legítimo Rei” busca atingir esse objetivo ao dramatizar a luta de Robert the Bruce pela independência da Escócia. Com uma estética visual impressionante e um trabalho meticuloso na reconstituição da época, o longa se destaca pelo apuro técnico. Figurinos detalhados, paisagens imponentes e uma fotografia que exalta a rudeza do período conferem um senso de imersão raro. No entanto, ao condensar um capítulo tão complexo da história escocesa em pouco mais de duas horas, o filme enfrenta desafios estruturais que limitam a profundidade de sua abordagem, sugerindo que uma narrativa seriada poderia ter sido mais eficaz para explorar os dilemas políticos e militares do protagonista.
Chris Pine assume o papel de Robert the Bruce com solidez, incorporando a presença estoica de um líder relutante, mas determinado. Sua atuação, embora convincente, suscita questionamentos sobre a escolha de um ator estrangeiro para encarnar um ícone escocês, o que pode comprometer parte da autenticidade cultural da produção. O elenco de apoio cumpre bem sua função, mas muitos personagens secundários acabam reduzidos a figuras acessórias, sem o desenvolvimento necessário para torná-los memoráveis. A exceção fica por conta de Aaron Taylor-Johnson, que entrega uma performance visceral como um guerreiro impulsivo e sanguinário, conferindo uma energia bruta que contrasta com o tom contido do restante do elenco.
A forma como o longa retrata os ingleses reforça uma visão maniqueísta do conflito, apresentando-os como opressores impiedosos, responsáveis por massacres e destruições sistemáticas. Embora esses elementos tenham respaldo histórico, a ausência de camadas nos antagonistas enfraquece a complexidade da narrativa. Um desenvolvimento mais matizado desses personagens poderia ter elevado a densidade dramática do filme, tornando o embate entre escoceses e britânicos mais do que um simples jogo de forças entre o bem e o mal.
Se há um aspecto em que “Legítimo Rei” se sobressai, é na representação visceral da guerra. As cenas de batalha, coreografadas com brutalidade e captadas com um trabalho de câmera que privilegia a imersão, remetem ao impacto visual de “Coração Valente”. O uso de efeitos práticos e a crueza dos confrontos reforçam a atmosfera de caos e desespero, garantindo que o espectador sinta a brutalidade dos campos de batalha medievais. No entanto, a ênfase no espetáculo bélico acaba ofuscando a interioridade dos personagens, tornando a jornada emocional de Robert the Bruce menos envolvente do que poderia ser.
“Legítimo Rei” não tem intenção de ser um relato histórico exaustivo, mas sim uma obra cinematográfica ancorada em eventos verídicos, e dentro dessa proposta entrega um entretenimento de qualidade, ainda que limitado por suas escolhas narrativas. Para os entusiastas de filmes épicos e reconstituições detalhadas, é uma experiência que vale a pena. No entanto, aqueles que buscam um mergulho mais profundo na figura de Robert the Bruce podem sentir que a grandiosidade visual não compensa completamente a falta de um desenvolvimento mais nuançado. O filme impressiona pelos olhos, mas poderia ter ido além na alma de sua história.
★★★★★★★★★★