Pequenas cidades que mascaram segredos sinistros, revelados por personagens à margem do que se espera como normal, consolidaram-se como um dos filões mais instigantes do terror. Entre os exemplos mais icônicos, a sucessão de eventos perturbadores ambientados em Amityville, uma localidade modesta do condado de Suffolk, Nova York, ilustra bem essa ideia. Desde 1979 até 2017, essa franquia explorou variações sobre uma mesma atmosfera de mistério e horror, mantendo-se sempre relevante aos olhos do público.
Com “Halloween Ends”, David Gordon Green retoma essa premissa, moldando a trajetória de um assassino que se torna a sombra maldita de uma comunidade preconceituosa e sufocante. O roteiro de Paul Brad Logan, derivado dos personagens concebidos por John Carpenter e Debra Hill (1950-2005), resgata aspectos essenciais de “Halloween — A Noite do Terror” (1978), mas abandona o tom intimista do original em favor de uma abordagem mais macabra e explícita. O resultado é um desfile de violência latente e meticulosamente dosada, ampliando o peso da atuação no desenrolar da trama.
Poucos gêneros cinematográficos conseguem se reconfigurar ao longo do tempo com tanta versatilidade quanto o terror. Ainda que se valha constantemente de premissas recicladas, a forma como os medos se manifestam muda conforme a sociedade avança, permitindo que novas leituras, sejam elas bem-sucedidas ou não, sempre encontrem espaço. Esse tipo de narrativa não apenas reflete sobre a existência e os costumes, mas também os rejeita, colocando em xeque certezas enraizadas desde a infância e remodelando percepções por meio de imagens perturbadoras.
Ao redor dessa espinha dorsal, desdobram-se tramas secundárias que, em tese, prometem conduzir a reflexões mais profundas. No entanto, frequentemente essas digressões são abandonadas em prol de reviravoltas improváveis, como ocorre no décimo terceiro capítulo da saga. Dessa vez, Haddonfield ocupa o posto de Amityville, e a engrenagem do terror é acionada em 2019, quando Corey Cunningham se vê envolvido na trágica morte de um menino que estava sob seus cuidados enquanto os pais festejavam em uma noite de Halloween.
Green revisita elementos recorrentes da mitologia de Carpenter para reafirmar a existência de um assassino genuinamente letal, reavivando no público a lembrança do infame Michael Myers. Ainda assim, a figura de Corey não passa despercebida, e Rohan Campbell encarna com precisão esse novo ponto de tensão, dividindo com a Laurie Strode de Jamie Lee Curtis os momentos mais marcantes da produção. A identidade da obra permanece fiel ao DNA de Carpenter — e isso, por si só, já diz muito.
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