A grandiosidade de “Downton Abbey” ressurge com “Downton Abbey: Uma Nova Era”, uma narrativa que preserva a sofisticação da série enquanto expande suas fronteiras temáticas. O filme se desenrola em dois eixos narrativos distintos: a incursão dos Crawley na Riviera Francesa e a chegada de uma equipe de filmagem à propriedade, eventos que confrontam tradição e mudança com elegância e um toque de ironia refinada.
A presença de cineastas em Downton Abbey é mais do que um artifício dramático; simboliza um momento de transição histórica, remetendo à revolução provocada pela chegada do som ao cinema na virada da década de 1920. Lady Mary (Michelle Dockery) assume um papel inesperado no projeto, enquanto Lord Grantham (Hugh Bonneville) encara com reticência essa invasão moderna em seu mundo aristocrático. Essa trama não apenas evoca o impacto da inovação na arte cinematográfica, mas também ressalta o inevitável confronto entre a preservação de um estilo de vida e a adaptação às novas realidades sociais e culturais.
Paralelamente, a herança inesperada deixada à matriarca Violet Crawley (Maggie Smith) leva a família a uma jornada pelo sul da França, onde a sombra de segredos do passado paira sobre Robert Crawley. A interrogação sobre sua linhagem se entrelaça com a iminência de uma despedida inescapável, conferindo um tom agridoce à narrativa. Os cenários deslumbrantes e os diálogos afiados impedem que a história resvale no melodrama excessivo, mantendo o equilíbrio entre emoção e contenção.
Desde sua estreia em 2010, “Downton Abbey” consolidou-se como um marco da dramaturgia televisiva, e sua expansão para o cinema reafirma o apelo duradouro dessa saga aristocrática. O primeiro longa-metragem, lançado em 2019, demonstrou que o fascínio pelo universo dos Crawley permanecia intacto, conquistando bilheterias expressivas. “Uma Nova Era”, por sua vez, emerge em um contexto distinto, no qual a indústria cinematográfica enfrenta um novo paradigma pós-pandemia. Ainda assim, o filme preserva a identidade que fez da franquia um fenômeno, oferecendo uma experiência nostálgica sem perder sua relevância narrativa.
O embate entre tradição e transformação está no cerne do longa, refletindo tanto as mudanças estruturais da sociedade britânica quanto a própria evolução dos personagens. Lady Mary, pragmática e ciente dos ventos da modernidade, contrasta com Robert, que se vê desafiado a reavaliar sua posição no mundo. Além disso, há espaço para tramas paralelas que enriquecem o tecido narrativo, como o romance inesperado de Mrs. Patmore (Lesley Nicol) e a trajetória de Daisy (Sophie McShera) e Andrew (Michael Fox), personagens que representam uma aristocracia em transição.
Visualmente deslumbrante, com figurinos impecáveis e uma cinematografia que exalta a estética refinada da série, “Downton Abbey: Uma Nova Era” funciona como uma celebração do legado da saga. Não se trata apenas de uma sequência, mas de uma homenagem ao que a série representou e ao impacto que continua a exercer sobre seu público. Ao equilibrar melancolia e esperança, o filme reafirma que, por mais que o tempo avance, certas histórias permanecem atemporais.
★★★★★★★★★★
