Todo mundo já ouviu falar do efeito borboleta, aquela teoria que sugere como eventos aparentemente insignificantes podem desencadear consequências imprevisíveis. Essa é a premissa que sustenta a trama de três histórias interligadas, explorando coincidências, destino e o acaso cruel que afeta tanto gente comum quanto aqueles que parecem ter uma luz interior que os protege — até que tudo desmorona. A narrativa de Alejandro González Iñárritu examina essa imprevisibilidade da vida enquanto expõe a crescente dificuldade de comunicação entre as pessoas. Não por coincidência, ele invoca a lenda da Torre de Babel, um símbolo da incompreensão humana, ecoando essa atmosfera de caos e desconexão ao longo dos 143 minutos do filme, sem concessões para soluções fáceis.
Continuando a trilogia iniciada com “Amores Brutos” (2000) e seguida por “21 Gramas” (2003), Iñárritu e o corroteirista Guillermo Arriaga conduzem magistralmente um emaranhado de tragédias envolvendo personagens que jamais se encontram. Tudo começa com um empresário japonês em férias no Marrocos. Após uma caçada que só expõe frustrações e vaidades, ele presenteia o guia local com um rifle. O presente é vendido para um homem que deseja proteger seu rebanho de chacais. Nas mãos dos filhos do comprador, a arma se torna um instrumento de desastre quando, numa competição infantil, um dos garotos acerta acidentalmente uma turista americana, Susan, desencadeando uma reação em cadeia que atravessa fronteiras.
O casal americano, interpretado por Cate Blanchett e Brad Pitt, enfrenta um pesadelo enquanto tenta voltar aos Estados Unidos, ignorando a dura realidade local. Em San Diego, Amélia, a babá mexicana, cuida dos filhos deles, mas, sem alternativa, os leva a um casamento no México. O contraste cultural e a jornada atribulada revelam o ponto de ruptura da narrativa: a incapacidade de entender o outro. Do outro lado do mundo, o empresário japonês e sua filha surda-muda, Chieko, representam o silêncio ensurdecedor que separa pessoas mesmo quando estão perto. As atuações intensas de Kōji Yakusho e Rinko Kikuchi oferecem um retrato sensível da solidão e da busca desesperada por conexão, tornando evidente que a comunicação é a única esperança em um mundo fragmentado.
★★★★★★★★★★