Ryan Murphy construiu ao longo dos anos uma relação singular com Darren Criss, seja por genuína admiração a seu talento ou por uma preferência pessoal difícil de ignorar. No entanto, a atuação de Criss em “Hollywood” não representa um marco em sua carreira, pois sua abordagem tende a se repetir, variando apenas em nuances superficiais. Em contraponto, Jim Parsons surpreende ao interpretar o implacável agente Henry Willson, rompendo com os papéis cômicos que o consagraram e provando uma versatilidade que poucos esperavam. Já David Corenswet, na pele de Jack Costello, um aspirante a astro, chama atenção não apenas por seu desempenho, mas também pelo interesse crescente em seu futuro como o novo Superman — uma escolha que inevitavelmente convida à comparação com Henry Cavill, ainda fortemente vinculado ao icônico herói.
Visualmente impecável, “Hollywood” reimagina a indústria cinematográfica do final dos anos 1940 com uma fusão entre realidade e ficção que oscila entre o magnetismo e a extravagância. Embora a série seduza com sua estética refinada e interpretações marcantes, sua abordagem por vezes ingênua dos temas propostos enfraquece o impacto narrativo. Inspirando-se parcialmente na autobiografia “Full Service” de Scotty Bowers, a trama reconstrói eventos históricos sob um viés idealista, culminando em um desfecho fantasioso onde seus protagonistas ressignificam os rumos do Oscar de forma que desafia a própria memória coletiva da indústria.
O enredo acompanha um grupo de jovens ambiciosos em uma Hollywood que surge do pós-guerra, combinando personagens fictícios a figuras reais. Inicialmente, o foco recai sobre a produção de um filme inspirado na trágica história de Peg Entwistle, atriz que, em 1932, se lançou do letreiro de Hollywoodland. Contudo, a narrativa muda abruptamente para Meg, uma jovem negra determinada a superar as barreiras raciais da indústria. A série também resgata o infame posto de gasolina que, segundo relatos, servia como ponto de encontros clandestinos para celebridades, retomando as polêmicas memórias de Scotty Bowers.
A mescla entre realidade e ficção resulta em um mosaico peculiar, trazendo à tela celebridades como Vivien Leigh, Tallulah Bankhead, Hattie McDaniel, Anna May Wong e George Cukor, além de figuras políticas como Eleanor Roosevelt. No entanto, ao abordar temas como assédio, etarismo e diversidade, a série frequentemente adota um tom didático, transformando sua narrativa em um exercício moralizante que nem sempre se harmoniza organicamente com a trama. Esse idealismo exacerbado, sobretudo na resolução da história, pode afastar espectadores que buscam uma abordagem mais sóbria e complexa dos bastidores da indústria cinematográfica.
No que tange ao elenco, a qualidade das performances varia significativamente. Patti LuPone exibe maestria ao dar vida à esposa de um magnata do cinema que assume o comando dos negócios após a doença do marido, vivido por Rob Reiner. Joe Mantello traz profundidade ao produtor enrustido que sustenta a engrenagem da indústria, enquanto Holland Taylor se destaca como uma exigente treinadora de talentos. Dylan McDermott adiciona carisma ao empresário que administra o posto de gasolina, e Mira Sorvino oferece uma interpretação cativante como uma estrela em decadência. Entretanto, Laura Harrier (Camille) e Maude Apatow (Henrietta) não demonstram a mesma presença de cena, o que compromete a dinâmica do elenco. A participação de Apatow, filha do cineasta Judd Apatow, evidencia ainda mais a persistência do nepotismo em Hollywood, levantando questionamentos sobre os critérios de escalação e as oportunidades dentro da indústria.
“Hollywood” exemplifica a tendência de Ryan Murphy em alternar entre acertos e deslizes. Se por um lado entrega uma produção visualmente estonteante e instigante, por outro, peca ao reescrever a história com um otimismo ingênuo que enfraquece sua própria crítica. O espectador se vê diante de um dilema: admirar a ousadia da proposta ou questionar sua superficialidade ao lidar com as complexidades do passado.
★★★★★★★★★★