Filme com Rachel McAdams que tem 99% de aprovação no Rotten Tomatoes é encantador e está no Prime Video

Filme com Rachel McAdams que tem 99% de aprovação no Rotten Tomatoes é encantador e está no Prime Video

Kelly Fremon Craig retorna com maestria ao universo das histórias de amadurecimento, ampliando sua exploração das complexidades da adolescência com “Are You There God? It’s me Margaret.”. Neste filme, a diretora constrói uma adaptação que vai além da simples transposição do clássico romance de Judy Blume, original de 1970. Através da vivacidade e profundidade da personagem Margaret Simon, interpretada com talento por Abby Ryder Fortson, somos levados a um passeio pelas confusões, os dilemas e as descobertas que marcam a puberdade. A década de 1970 não é apenas o pano de fundo da história, mas um protagonista silencioso que colore as experiências da jovem com uma nostalgia palpável, ao mesmo tempo em que questiona e expande a experiência juvenil.

A narrativa se desvia de ser uma mera reconstrução do texto original e, ao invés disso, se apresenta como uma reflexão expandida sobre os desafios da adolescência. Margaret, dividida entre o cristianismo de sua mãe e o judaísmo de seu pai, enfrenta o dilema de construir sua identidade religiosa e pessoal em um ambiente familiar e socialmente fragmentado. O roteiro de Fremon Craig equilibra com habilidade os tons de humor e introspecção, criando uma atmosfera onde cada passo da protagonista é acompanhado com um olhar crítico, mas carinhoso, sobre a juventude. O filme não se limita a revisitar momentos já conhecidos da literatura, mas propõe uma lente mais profunda, desafiando as concepções de fé, pertencimento e autodescoberta que permeiam a história.

O elenco de apoio se destaca, trazendo uma riqueza de nuances que complementam a jornada de Margaret. Rachel McAdams, como Barbara, a mãe de Margaret, traz uma performance cheia de vulnerabilidade, mostrando uma mulher que luta para se adaptar a um novo contexto suburbano, ao mesmo tempo em que lida com os seus próprios medos de perda e identidade. Benny Safdie e Kathy Bates completam o círculo familiar com performances que adicionam camadas de complexidade. Bates, como a avó de Margaret, não apenas proporciona momentos de humor, mas também se torna uma figura essencial na compreensão dos desafios familiares intergeracionais. O conflito entre os mundos de Margaret e sua avó é uma das muitas representações cuidadosas de como as dinâmicas familiares são marcadas por expectativas e imposições.

O filme capta a estética dos anos 1970 de forma magistral, não apenas em sua direção de arte e fotografia, mas também na maneira como a composição de cada cena transmite uma sensação de autenticidade. Ao evitar a tecnologia e o mundo das redes sociais, Fremon Craig nos transporta para um tempo em que as relações humanas eram mais palpáveis e a adolescência era vivida de maneira mais íntima. Cada elemento da cenografia, desde os móveis até as roupas dos personagens, constrói uma imersão nas texturas e atmosferas de uma época que, para os jovens espectadores, pode soar como uma descoberta histórica, mas para os mais velhos, um retorno às memórias de uma infância menos digitalizada e mais pessoal.

No núcleo da história, o tema da religiosidade se destaca como um ponto de tensão e reflexão. Quando Margaret é encarregada de um trabalho escolar sobre a religião, ela se vê diante de uma questão que se expande além do campo acadêmico e adentra os domínios da sua própria busca espiritual. O roteiro trata da religião não apenas como uma doutrina, mas como um elemento de construção e desconstrução pessoal. O dilema de Margaret, ao tentar entender as crenças divergentes de seus pais, revela as fissuras que muitas vezes existem em nosso entendimento de fé e identidade. O filme trata dessa questão de forma delicada, respeitando a complexidade do tema e oferecendo uma visão multifacetada da relação entre crença e pertencimento, sem recorrer a soluções fáceis ou respostas prontas.

Embora “Are You There God? It’s me Margaret.” não alcance a carga emocional de seu antecessor, “Quase 18”, o filme se mantém firme em sua posição como uma comédia de amadurecimento de grande profundidade. A direção de Fremon Craig revela uma autenticidade inegável, demonstrando uma habilidade excepcional em capturar os pequenos dilemas da adolescência e transformá-los em algo universal e atemporal. A busca de Margaret por sua primeira menstruação, suas expectativas sobre o primeiro amor e seu desejo de pertencer a um grupo de amigos são representações sinceras de uma fase da vida que, embora aparentemente simples, está carregada de complexidade emocional. A forma como o filme trata esses temas com tanta empatia e honestidade faz com que o público se sinta envolvido, mesmo sem a necessidade de um grande drama ou reviravoltas narrativas.

No entanto, o que realmente diferencia “Are You There God? It’s me Margaret.” é a sua capacidade de propor uma reflexão genuína sobre o crescimento. Não se trata apenas de reviver a nostalgia de uma época, mas de explorar com honestidade o processo de transição da infância para a adolescência, e de como as pequenas, mas significativas experiências, moldam o ser. O filme é uma obra cinematográfica de grande sutileza, marcada pela coragem de abordar questões profundas, sem deixar de lado o calor humano e a leveza de um bom retrato de amadurecimento. 

Através de suas interações familiares, amizades e descobertas pessoais, “Are You There God? It’s me Margaret.” oferece uma experiência cinematográfica rica, genuína e profundamente impactante, com performances que tornam cada momento inesquecível e uma narrativa que continua a reverberar na mente do espectador, muito tempo depois de a tela se apagar.

Filme: Are You There God? It’s me Margaret.
Diretor: Kelly Fremon Craig
Ano: 2023
Gênero: Comédia/Drama
Avaliação: 9/10 1 1
★★★★★★★★★