Só até hoje na Netflix! Prepare-se para a paranoia com Blake Lively no suspense mais eletrizante do streaming Divulgação / Lionsgate

Só até hoje na Netflix! Prepare-se para a paranoia com Blake Lively no suspense mais eletrizante do streaming

Paul Feig não se contenta em seguir fórmulas estabelecidas. Em “Um Pequeno Favor”, ele constrói um thriller neo-noir que flerta abertamente com o suspense e a comédia, sem jamais se enclausurar em um único gênero. Inspirado no romance homônimo de Darcey Bell, o filme se estrutura sobre uma investigação de mistério que, sob mãos menos hábeis, poderia soar previsível e desgastada. No entanto, Feig, com sua experiência em narrativas que oscilam entre o absurdo e a sofisticação, transforma a trama em um jogo de nuances bem-orquestradas, onde cada peça se encaixa com precisão e cada reviravolta adiciona uma nova camada de complexidade à história. Longe de mergulhar na escuridão típica dos thrillers, ele opta por uma abordagem estilizada, marcada por uma fotografia vibrante, uma trilha sonora pontuada por canções francesas e um humor ácido que desafia convenções.

No centro da trama estão duas mulheres radicalmente opostas, mas ligadas por uma amizade improvável que caminha na tênue linha entre a admiração e a manipulação. Stephanie Smothers, vivida por Anna Kendrick, é o arquétipo da mãe solo devotada, obcecada por afazeres domésticos e completamente imersa na criação do filho, Miles. Seu mundo gira em torno das atividades escolares e de seu canal na internet, onde compartilha tutoriais e dicas maternas com um tom ingênuo e prestativo. A vida meticulosamente organizada de Stephanie, no entanto, contrasta com a personalidade magnética e enigmática de Emily Nelson, interpretada por Blake Lively. Ex-modelo e executiva de relações públicas, Emily ostenta um estilo de vida luxuoso, vestindo ternos impecáveis e bebendo martínis em plena tarde. Ela despreza exposição on-line, guarda segredos a sete chaves e tem um ar de femme fatale intimidadora, que fascina e assusta em igual medida.

O encontro dessas duas figuras dá início a uma relação de codependência, que mistura admiração, inveja e um desejo velado de viver a vida da outra. Emily, sempre enigmática, parece se divertir ao testar os limites de Stephanie, até que um pedido aparentemente banal altera tudo: ela pede que a amiga busque seu filho na escola. O problema é que Emily desaparece sem deixar rastros. O sumiço desencadeia um frenesi na vizinhança, mobiliza a polícia e atrai a atenção da mídia. Sean, o marido interpretado por Henry Golding, sugere que esse comportamento não é inédito, mas nunca havia se estendido por tanto tempo. A incerteza se torna insuportável, e Stephanie, ao mesmo tempo em que assume um papel cada vez mais presente na vida da família de Emily, começa a investigar o paradeiro da amiga. Sua busca não é apenas por respostas, mas também por um propósito — e, em meio ao caos, seu canal na internet cresce exponencialmente, transformando-a em uma figura inesperada de relevância pública.

Com um jogo de espelhos que remete a produções como “Garota Exemplar”, o roteiro de Darcey Bell e Jessica Sharzer brinca com expectativas e desafia o espectador a questionar as motivações de cada personagem. No entanto, Feig se desvia das armadilhas da previsibilidade ao apostar em um tom mais debochado e extravagante, que confere ao filme uma identidade própria. Diferente do suspense austero de David Fincher, aqui a tensão se equilibra com diálogos mordazes e uma estética visual exuberante, onde figurinos e cenografia desempenham um papel fundamental na construção das personagens. Stephanie, com sua imagem cuidadosamente polida de mãe influencer, contrasta com a elegância impenetrável de Emily, cujos trajes sofisticados foram inspirados no próprio guarda-roupa do diretor.

O triângulo formado por Stephanie, Emily e Sean adiciona uma camada extra de tensão ao enredo, tornando-se um elemento crucial na diferenciação do filme em relação a outras narrativas do gênero. O jogo de sedução e desconfiança entre os personagens mantém o público envolvido até o desfecho, que, embora não fuja completamente das convenções do thriller, é conduzido com energia e inteligência o suficiente para não soar apenas mais um clichê. “Um Pequeno Favor” pode não ser uma obra-prima revolucionária, mas é um filme que compreende sua própria essência e se entrega a ela sem reservas. Divertido, sagaz e estilizado, ele prova que um bom suspense não precisa ser soturno para ser intrigante — e que, quando conduzido por um diretor com a ousadia certa, até mesmo o mistério pode vir acompanhado de uma boa dose de irreverência.

Filme: Um Pequeno Favor
Diretor: Paul Feig
Ano: 2018
Gênero: Comédia/Suspense
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★