A atuação de Mark Wahlberg que merecia indicação ao Oscar: drama também tem Mel Gibson e está na Netflix Divulgação / Columbia Pictures

A atuação de Mark Wahlberg que merecia indicação ao Oscar: drama também tem Mel Gibson e está na Netflix

A cinebiografia de Stuart Long, “Luta Pela Fé: A História do Padre Stu”, vai além do convencional ao mostrar não apenas uma jornada de redenção, mas um retrato nu e cru da obstinação humana diante do improvável. Através de uma atuação visceral de Mark Wahlberg, o filme captura as complexidades de um protagonista que desafia expectativas: um pugilista amador que, diante de reveses e perdas, encontra no sacerdócio um novo caminho, sem, no entanto, abdicar de sua natureza combativa. Diferente da santidade estereotipada, Stu é um homem de carne e osso, resistente e rebelde, cuja transição não ocorre por um momento de epifania abrupta, mas sim por um processo gradual de redirecionamento de sua força interior.

O que torna essa história singular é sua abordagem destemida ao não romantizar as transformações de seu protagonista. Wahlberg, em uma das performances mais intensas de sua carreira, se entrega fisicamente e emocionalmente ao papel, capturando cada fissura da vulnerabilidade de Stu. Ele se recusa a torná-lo um herói imaculado, preservando sua personalidade impulsiva e seu humor mordaz, o que confere uma autenticidade rara ao personagem.

A dinâmica entre Stu e seu pai, vivido por um Mel Gibson em grande forma, adiciona uma camada de tensão dramática ao filme. A relação é marcada por ressentimentos e um distanciamento emocional que ecoa tragédias do passado. Gibson imprime uma carga de amargura e exaustão ao seu personagem, um homem consumido pela dor e pelo alcoolismo, evocando uma intensidade que lembra a atuação de Nick Nolte em “Guerreiro”. Jackie Weaver, como a mãe de Stu, oferece um contraponto emocionalmente forte, interpretando uma mulher pragmática que, mesmo diante das dificuldades, mantém a família de pé. Sua presença garante um toque de realismo, evitando qualquer traço de sentimentalismo excessivo.

A trajetória de Stu ganha ainda mais peso com a progressão da miosite por corpúsculos de inclusão (IBM), uma doença degenerativa que o desafia de forma implacável. O filme não se rende à tentação de transformar sua dor em um artifício melodramático, mas sim a utiliza para reforçar sua resiliência. Wahlberg transmite com precisão não apenas as limitações físicas progressivas, mas também o peso psicológico que elas impõem. Seu comprometimento com o papel é evidente, refletido até mesmo na drástica mudança física para retratar a evolução da doença.

Embora o filme siga uma estrutura clássica de histórias de redenção, sua maior força reside na maneira como subverte expectativas. Stu não se torna um religioso austero ou irreconhecível, mas sim um padre cuja irreverência permanece intacta. Seus momentos de humor, muitas vezes ácido, quebram o peso da narrativa e revelam que, mesmo diante da adversidade, sua essência continua inalterada. Teresa Ruiz também merece destaque por sua atuação emocionalmente envolvente, oferecendo um contraponto delicado e sincero à energia indomável de Stu.

Visualmente, a cinematografia opta por uma abordagem funcional, sem grandes inovações estéticas, mas eficiente ao criar uma atmosfera imersiva. A direção de Rosalind Ross equilibra bem os momentos de intensidade emocional sem resvalar para o sentimentalismo excessivo, permitindo que a jornada de Stu seja contada com honestidade e contundência. A cineasta evita estereótipos e caricaturas, entregando um filme que, embora tenha um apelo espiritual, não se apoia em idealismos simplistas.

O filme não se limita a contar a história de um homem que encontrou a fé, mas sim a de um indivíduo que aprendeu a ressignificar sua força. Sua mensagem não é de perfeição moral, mas de perseverança autêntica. Combinando humor, drama e reflexões profundas, a obra se destaca por fugir da previsibilidade e deixar uma impressão genuína e duradoura no espectador.

Filme: Luta Pela Fé: A História do Padre Stu
Diretor: Rosalind Ross
Ano: 2022
Gênero: Biografia/Drama
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★