“Inferno em La Palma” é uma minissérie que combina desastre natural, tensão crescente e drama familiar ambientada em uma ilha à beira da destruição tem, sem dúvida, um apelo irresistível. Com apenas quatro episódios, a produção da Netflix entrega um espetáculo visual impressionante, apostando em efeitos especiais de qualidade e sequências de tirar o fôlego, características que superam as expectativas para um projeto de escopo limitado. Contudo, a narrativa oscila entre o realismo angustiante e escolhas dramáticas que nem sempre se sustentam, desafiando a lógica e, em certos momentos, minando a imersão do espectador.
O enredo acompanha uma família norueguesa em férias na Ilha de La Palma, sem imaginar que sua estadia será transformada em uma luta desesperada pela sobrevivência. O alerta sobre um desastre iminente surge através da cientista Marie, cuja voz é silenciada por autoridades céticas, desencadeando uma sucessão de eventos que culminam no caos absoluto. A atmosfera de tensão é reforçada por uma fotografia cuidadosa e uma direção de arte que captura com precisão a opressão do ambiente, criando um senso crescente de perigo. No entanto, a coerência dos personagens se mostra um dos pontos frágeis da série. Muitas das escolhas feitas pelos protagonistas parecem menos fruto de suas personalidades e mais decisões artificiais para mover a trama adiante, comprometendo a autenticidade de certos momentos-chave.
Apesar dessas inconsistências, a série encontra um equilíbrio interessante ao dosar sequências de ação intensas com momentos de introspecção. O ritmo narrativo é bem administrado, evitando a monotonia sem recorrer ao frenesi exagerado. A dinâmica entre Charlie e Sara, que poderia parecer secundária diante da ameaça avassaladora do vulcão, surpreende ao adicionar um nível de humanidade à história. O primeiro amor, vivido sob circunstâncias extremas, gera um contraste intrigante entre a fragilidade das relações humanas e a força implacável da natureza. Embora essa camada emocional não seja unanimemente apreciada, ela impede que a narrativa se reduza a uma mera sucessão de catástrofes.
O desfecho, no entanto, provoca divisões. Enquanto os primeiros episódios constroem um cenário de tensão plausível, o capítulo final abraça elementos grandiosos que remetem às superproduções de Hollywood, aproximando-se mais de um espetáculo apoteótico do que de um thriller realista. Para um público que busca entretenimento puro, esse salto pode ser bem recebido; para aqueles que esperavam um encerramento mais consistente com o tom inicial, a mudança pode soar abrupta. Além disso, a ausência de consequências significativas para personagens centrais suaviza o impacto dramático, sugerindo que a série poderia ter ousado mais em suas resoluções narrativas.
A minissérie entrega uma experiência envolvente para quem aprecia tramas de sobrevivência embaladas por efeitos visuais competentes e uma atmosfera de urgência constante. Não reinventa o gênero, tampouco alcança um realismo impecável, mas cumpre seu propósito ao equilibrar emoção e espetáculo em doses bem distribuídas. Seu mérito reside na habilidade de manter o espectador investido, mesmo quando a lógica cede espaço ao entretenimento. Para quem busca uma história curta, intensa e visualmente marcante, vale a pena conferir — desde que a expectativa seja mais pelo impacto das cenas do que pela profundidade da narrativa.
★★★★★★★★★★