“Entre Monhanhas”, novo thriller de ação e ficção científica da Apple TV+, mistura gêneros de forma ousada e envolvente. Longe de se contentar com uma estrutura convencional, o longa desafia expectativas ao incorporar elementos de terror, suspense e drama, tudo isso ancorado por personagens profundamente humanos e uma atmosfera de isolamento que amplia a tensão de maneira magistral.
A trama acompanha um atirador de elite da Marinha, interpretado por Miles Teller, e uma sniper lituana, vivida por Anya Taylor-Joy, ambos recrutados para uma missão enigmática: vigiar um desfiladeiro coberto por névoa e eliminar qualquer coisa que tente sair de lá. As diretrizes são rígidas — contato proibido, relatórios a cada 30 dias e resgate prometido após um ano. Contudo, a natureza humana não se curva facilmente a regras frias, e conforme a convivência clandestina entre os protagonistas se intensifica, o filme se transforma em um estudo psicológico sobre lealdade, medo e os limites da obediência.
O grande trunfo da obra reside na química explosiva entre Teller e Taylor-Joy. Ambos entregam performances que transcendem a simples parceria profissional, criando um vínculo que evolui organicamente, oscilando entre desconfiança, cumplicidade e algo que se aproxima perigosamente da paixão. A direção acerta ao evitar excessos melodramáticos, apostando em silêncios carregados e olhares que dizem mais do que palavras. A tensão entre os protagonistas é palpável, transformando cada interação em um jogo de poder, vulnerabilidade e desejo reprimido.
A ambientação é um personagem à parte. O desfiladeiro coberto por névoa não é apenas um cenário, mas um organismo vivo que inspira paranoia e claustrofobia. A fotografia explora essa sensação ao máximo, com planos que enfatizam a vastidão desoladora do ambiente e ao mesmo tempo aprisionam os personagens em sua insignificância perante o desconhecido. As cenas de ação são orquestradas com precisão, evitando o espetáculo gratuito e optando por confrontos intensos, realistas e imbuídos de significado narrativo.
Sigourney Weaver, mesmo em uma participação breve, adiciona um peso dramático inegável à produção, evocando sua trajetória icônica na ficção científica e trazendo uma camada extra de legitimidade ao filme. Seu papel, ainda que limitado em tempo de tela, ressoa ao longo da narrativa como um eco das consequências que esperam aqueles que desafiam as regras impostas.
Se há algo a se questionar, são algumas concessões do roteiro que, por vezes, desafiam a lógica — buracos que poderiam acomodar um avião inteiro, como brincam alguns espectadores mais atentos. No entanto, o roteiro de Zach Dean compensa esses deslizes com diálogos afiados e um equilíbrio notável entre humor, tensão e emoção genuína. A mistura de sci-fi, horror e romance poderia facilmente resultar em um produto disforme, mas o filme surpreende ao encontrar harmonia nessa combinação improvável.
A trilha sonora, assinada por Trent Reznor e Atticus Ross, contribui significativamente para a imersão do espectador. Alternando entre atmosferas soturnas e explosões de energia no momento certo, a música amplifica a sensação de urgência e vulnerabilidade dos protagonistas, tornando cada reviravolta ainda mais impactante.
A montagem precisa evita desperdícios narrativos, garantindo um ritmo ágil e envolvente. Mesmo com uma duração extensa, o filme mantém a atenção do espectador sem recorrer a fillers ou soluções fáceis. “Entre Montanhas” é uma experiência cinematográfica rara, equilibrando ação e emoção com autenticidade. Embora tenha sido lançado diretamente no streaming, seu impacto e qualidade fariam jus à grandiosidade de uma exibição nas telonas, onde sua força visual e narrativa poderiam brilhar ainda mais intensamente.
★★★★★★★★★★