15 minutos de aplausos e um lugar na história: um dos 30 maiores filmes de todos os tempos — e você pode ver agora na Netflix Divulgação / Focus Features

15 minutos de aplausos e um lugar na história: um dos 30 maiores filmes de todos os tempos — e você pode ver agora na Netflix

Desde o pioneirismo de “Cultura Prussiana” (1908), de Mojżesz Towbin, até as produções contemporâneas, o cinema polonês nunca deixou de provocar reflexões. Mesmo sem palavras, sempre carregou mensagens poderosas. Este filme sobre a revolta estudantil de Września, censurado a mando do czar Nicolau 2°, desapareceu misteriosamente até o ano 2000, quando Małgorzata e Marek Hendrykowska, pesquisadores poloneses, o localizaram num arquivo parisiense. A recuperação desta obra histórica é um tributo à resiliência cultural.

Por mais de um século, a Polônia se consolidou como um dos centros cinematográficos mais influentes da Europa. Nomes como Andrzej Wajda, Krzysztof Kieslowski e Roman Polanski contribuíram para essa tradição com obras que desafiaram normas sociais e políticas, muitas vezes enfrentando censura e controvérsias. As narrativas construídas por esses diretores exploram questões humanas complexas, sempre confrontando o status quo com lirismo e contundência. Seus filmes continuam a repercutir, ressoando como ecos de um passado conturbado.

Em “O Pianista”, Polanski revisita traumas profundos, revivendo as memórias dolorosas de sua infância marcada pelo Holocausto. Sobrevivente de Auschwitz, o diretor expõe suas angústias através da história de Wladyslaw Szpilman, um talentoso músico judeu que luta para sobreviver na Varsóvia ocupada pelos nazistas. A obra é um grito de resistência e, ao mesmo tempo, uma homenagem melancólica a milhões de vidas perdidas. Polanski projeta sua própria dor na tela, conferindo autenticidade e emoção a cada cena carregada de lirismo e desespero.

Embora baseado na autobiografia de Szpilman, o filme transcende a narrativa pessoal ao evocar questões universais sobre identidade, liberdade e sobrevivência. As primeiras cenas são arrebatadoras: o protagonista toca uma peça de Chopin enquanto bombas alemãs destroem Varsóvia. A música se transforma em símbolo de esperança e desafio contra a tirania nazista. Curiosamente, tanto Szpilman quanto Polanski compartilham a origem polonesa e a experiência do exílio na França, criando uma conexão trágica entre o diretor e seu personagem.

Adrien Brody oferece uma atuação magistral como Szpilman, mergulhando na complexidade psicológica do personagem. Ele expressa não apenas o medo e a dor, mas também uma resiliência que desafia as circunstâncias mais cruéis. Seu desempenho é impecável ao retratar um homem que resiste à opressão sem sacrificar sua dignidade ou paixão pela música. Ao fazê-lo, Brody revela camadas emocionais profundas, transformando Szpilman em um símbolo de coragem silenciosa.

A jornada de Szpilman pelas ruínas de Varsóvia ecoa a própria experiência de Polanski como sobrevivente. Fugindo da SS, Polanski teve de depender da solidariedade de desconhecidos para escapar da morte. Essa ligação pessoal intensifica a narrativa, conferindo autenticidade aos momentos de desespero e solidão. A relação ambígua entre Szpilman e o capitão nazista Wilm Hosenfeld, interpretado com nuance por Thomas Kretschmann, adiciona complexidade moral ao enredo. As escolhas individuais, mesmo em tempos de brutalidade, revelam um resquício de humanidade.

“O Pianista” transcende o drama histórico ao explorar a condição humana diante do horror. A Polônia, devastada pela guerra, torna-se um personagem silencioso, testemunha das tragédias e esperanças de um povo resiliente. Ao revisitar seu passado, Polanski oferece ao público uma reflexão dolorosa, mas necessária, sobre as cicatrizes da história. O filme é um tributo à memória e à resistência, comprovando que, mesmo diante da barbárie, a arte e a dignidade humana podem prevalecer.

Filme: O Pianista
Diretor: Roman Polanski
Ano: 2002
Gênero: Biografia/Drama/Guerra
Avaliação: 10/10 1 1
★★★★★★★★★★