Sarah Paulson impressiona com atuação perturbadora em um dos thrillers mais incômodos da Netflix Allen Fraser / Netflix

Sarah Paulson impressiona com atuação perturbadora em um dos thrillers mais incômodos da Netflix

Em “Fuja”, Sarah Paulson e Kiera Allen protagonizam um thriller psicológico que, embora derive de uma premissa reconhecível, se sobressai pela condução precisa da tensão e pela força de suas atuações. Paulson encarna uma mãe cuja devoção obsessiva se revela gradativamente uma prisão sufocante para a filha, interpretada por Allen, cuja performance impressiona tanto pela expressividade quanto pela intensidade física necessária para o papel. A interação entre as duas transcende o simples embate de vontades e se transforma em um jogo psicológico angustiante, onde cada gesto carrega o peso de um controle invisível, mas implacável.

O filme, dirigido por Aneesh Chaganty, desenvolve sua narrativa com um crescendo meticuloso, empregando um uso estratégico do espaço e da iluminação para acentuar a sensação de confinamento. A casa onde se desenrola grande parte da trama não é apenas um cenário, mas um reflexo palpável do domínio absoluto que a mãe exerce sobre a filha, convertendo cada corredor, cada porta trancada e cada frasco de remédio em peças de um tabuleiro claustrofóbico. A atmosfera evoca a tensão de clássicos como “Louca Obsessão”, mantendo o espectador em um estado constante de inquietação, onde a normalidade aparente pode ser desmoronada a qualquer instante.

A trilha sonora amplifica essa opressão psicológica, pontuando os momentos de silêncio com notas sutis que prenunciam o desespero. Ao mesmo tempo, a cinematografia contribui para a imersão, utilizando enquadramentos que reforçam a vulnerabilidade da protagonista e a onipresença da ameaça que a cerca. O roteiro, embora funcional na construção do suspense, peca por acelerar certas revelações, antecipando conflitos que poderiam ter sido mais gradualmente trabalhados para maximizar o impacto emocional. Em comparação com “Buscando…”, o projeto anterior de Chaganty, “Fuja” falta um frescor narrativo mais acentuado, mas compensa com uma execução técnica refinada e atuações magnéticas.

Ainda que alguns dos desdobramentos da trama exijam uma leve suspensão da descrença, a consistência emocional dos personagens garante a credibilidade do drama central. O filme equilibra com habilidade os momentos de introspecção e as cenas de maior intensidade, evitando excessos melodramáticos e mantendo o suspense em um nível elevado. Seu clímax, embora eficiente, segue uma estrutura previsível dentro do gênero, entregando um desfecho tenso, mas sem a inovação necessária para se destacar entre os melhores thrillers psicológicos recentes.

O verdadeiro mérito de “Fuja” está na maneira como explora os mecanismos de manipulação e dependência emocional, oferecendo uma experiência que transcende a simples narrativa de sobrevivência. A relação entre mãe e filha, carregada de amor e opressão em igual medida, conduz a uma reflexão inquietante sobre até que ponto o zelo pode se transformar em aprisionamento. O filme pode não reinventar o gênero, mas deixa uma marca pela densidade de suas atuações e pela construção minuciosa de uma paranoia crescente, provando que, muitas vezes, o verdadeiro horror não reside no desconhecido, mas naquilo que nos é mais familiar.

Filme: Fuja
Diretor: Aneesh Chaganty
Ano: 2020
Gênero: Drama/Terror Psicológico/Thriller
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★