Luc Besson consolidou sua carreira ao enaltecer o arquétipo da assassina enigmática, cuja beleza letal se alia a uma frieza inexorável nas missões impossíveis. Em “Anna – O Perigo Tem Nome”, o diretor retorna à fórmula que já lhe garantiu notoriedade desde “Nikita – Criada para Matar”, mas o que antes despertava um olhar inovador transforma-se, agora, em uma repetição cansativa. A tentativa de imbuir a narrativa com um realismo e uma densidade emocional que fujam do convencional esbarra em uma estrutura que, por si só, revela-se desprovida de profundidade.
A inconsistência interna do filme manifesta-se na oscilação entre uma busca por plausibilidade e uma fantasia desordenada. Enquanto séries consagradas, como as aventuras de “007”, “Duro de Matar” e “John Wick”, criam universos com regras bem delineadas que permitem a suspensão da descrença, “Anna” se perde em anacronismos tecnológicos e contextuais. A aparição intempestiva de dispositivos modernos — como telefones celulares, laptops com sistemas operacionais gráficos e acessórios USB — em um cenário que deveria remeter a épocas pretéritas, quebra a imersão e compromete a credibilidade do enredo.
O enredo, por sua vez, fragmenta-se em uma sucessão de saltos temporais que, ao invés de intensificar o suspense, acabam por gerar um labirinto de desconexões narrativas. A alternância exagerada entre diferentes linhas temporais reduz a complexidade dos conflitos e simplifica dilemas morais que, se aprofundados, poderiam ter elevado a tensão característica de um thriller de espionagem. Essa montagem não linear, ao dispersar a atenção do espectador, transforma o potencial de reviravolta em um percurso previsível e desprovido de surpresas significativas.
No campo das atuações, há uma disparidade notável. Helen Mirren imprime uma imponência que confere credibilidade à sua personagem, funcionando quase como o pilar que sustenta a narrativa. Em contraste, os papéis de Cillian Murphy e Luke Evans, embora executados com empenho, permanecem limitados pelas amarras de um roteiro que não os permite explorar camadas mais profundas. Sasha Luss, por sua vez, transita do universo da moda para as cenas de ação com naturalidade, mas sua performance carece de nuances que pudessem dar à protagonista uma identidade marcante e inesquecível.
No fundo, “Anna – O Perigo Tem Nome” oferece ao espectador o espetáculo característico de um filme de ação — sequências coreografadas com precisão e momentos de adrenalina intensa. Todavia, a ambição de transcender o convencional e elevar o gênero a patamares mais sofisticados revela-se um equívoco. A confluência de um roteiro desorganizado, erros históricos evidentes e uma estrutura narrativa que dispersa mais do que cativa resulta num entretenimento fugaz, capaz de provocar emoção instantânea, mas insuficiente para provocar reflexões duradouras sobre os limites entre o real e o fantástico.
★★★★★★★★★★