O filme subestimado, indicado ao Oscar 2025, que pode ser visto na Netflix Brasil Laura Radford / Perry Well Films 2

O filme subestimado, indicado ao Oscar 2025, que pode ser visto na Netflix Brasil

Histórias esquecidas pelo tempo muitas vezes carregam a essência de transformações que desafiam narrativas estabelecidas. “Batalhão 6888”, de Tyler Perry, foge ao estilo cômico do diretor para iluminar um capítulo ignorado da Segunda Guerra Mundial: a missão decisiva de 855 mulheres negras do Exército dos EUA na Europa, em 1945. Encarregadas de organizar um caos postal que isolava milhões de soldados, essas mulheres enfrentaram não só pilhas de correspondências, mas também um sistema que duvidava de sua competência e desejava seu fracasso.

Baseado no artigo “Fighting a Two-Front War”, de Kevin M. Hymel, o filme vai além da reconstrução histórica, revelando a luta contra o apagamento e o preconceito institucionalizado. Lideradas pela Major Charity Adams (Kerry Washington), as protagonistas desafiam uma estrutura militar hostil, provando que sua missão não era apenas logística, mas também um ato de resistência. A narrativa explora as histórias pessoais dessas mulheres, com Lena Derriecott (Ebony Obsidian) simbolizando a dor de tantas famílias separadas pela guerra e Johnnie Mae (Shanice Shantay) trazendo leveza e resiliência diante da rigidez militar.

O roteiro destaca o confronto com o General Halt (Dean Norris), um racista obstinado que tenta sabotar o batalhão, criando um contraste poderoso com a determinação de Adams. A cinematografia acerta ao mostrar a grandiosidade das marchas por ruas devastadas de Glasgow, traduzindo a resiliência coletiva do batalhão. Diferente de outros filmes de guerra, “Batalhão 6888” concentra-se no cotidiano exaustivo de organizar correspondências e na engenharia logística desenvolvida por essas mulheres.

Tyler Perry surpreende ao optar por um tom épico e sóbrio, abrindo espaço para o drama humano sem excessos melodramáticos. O filme equilibra tensão e emoção, reforçando o papel essencial dessas mulheres na história militar dos EUA. Além das dificuldades impostas pela hierarquia racista, o roteiro revela as camadas de opressão de gênero, expondo como essas mulheres eram vistas como entretenimento para soldados negros, um reflexo das desigualdades estruturais da época.

Ao contrário de narrativas de superação individual, o filme enfatiza a força coletiva e o impacto duradouro dessa missão. Não é apenas sobre a vitória contra o preconceito, mas sobre a reescrita de uma história que o tempo tentou apagar. Em 2015, Michelle Obama prestou homenagem às sobreviventes do batalhão. Em 2022, o reconhecimento oficial veio com a Medalha de Ouro do Congresso, um tributo tardio a essas pioneiras.

“Batalhão 6888” não se limita a um resgate histórico; ele corrige uma omissão na memória coletiva dos EUA. Perry entrega um filme poderoso e necessário, que não apenas informa, mas emociona e inspira, garantindo que essas vozes jamais sejam esquecidas.

Filme: Batalhão 6888
Diretor: Tyler Perry
Ano: 2024
Gênero: Drama/Guerra
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★