No Prime Video: indicado a 4 prêmios no Oscar 2025, o novo filme de Robert Eggers acaba de chegar ao streaming brasileiro Divulgação / Focus Features

No Prime Video: indicado a 4 prêmios no Oscar 2025, o novo filme de Robert Eggers acaba de chegar ao streaming brasileiro

Nosferatu, derivado de “nesuferit” (intolerável, em romeno), tornou-se sinônimo de “vampiro” na cultura popular após ser usado por Bram Stoker em “Drácula” (1897). Duas décadas depois, F.W. Murnau tentou adaptar a história para o cinema, mas, sem obter os direitos autorais, alterou nomes e detalhes enquanto preservava a essência da trama, criando um marco do expressionismo alemão: “Nosferatu”, que inaugurou o gênero de filmes de vampiro no cinema.

A obra de Murnau introduziu a figura grotesca e demoníaca do vampiro, posteriormente transformada em arquétipos mais sedutores e magnéticos. Esses novos vampiros se misturavam aos humanos, conquistando suas vítimas com charme em vez de medo. Hoje, Robert Eggers, aclamado por sua habilidade em criar atmosferas de terror psicológico, revive essa lenda com sua versão de “Nosferatu”, equilibrando respeito à tradição com inovação estilística.

Eggers traz uma abordagem singular à estética do filme, inspirando-se no expressionismo alemão, mas com identidade própria. A fotografia dessaturada e o uso do chiaroscuro — com sombras intensas e iluminação suave de velas — criam um cenário sombrio e intimista, intensificando o desconforto dos personagens. O minimalismo das ambientações acentua a vulnerabilidade humana, enquanto longas sequências contemplativas e elementos de folclore local enriquecem a atmosfera mística e opressiva do filme.

O diretor é conhecido por sua dedicação à autenticidade histórica, fazendo pesquisas detalhadas para compor cenários e figurinos fiéis ao período retratado. Eggers não apenas recria uma época, mas funde realismo e superstição, resultando em uma estética que equilibra o naturalismo e o sobrenatural. Essa combinação gera um universo onde o medo não é imposto, mas insinuado, crescendo de forma orgânica e psicológica.

A história gira em torno de Thomas e Ellen Hutter (Nicholas Hoult e Lily-Rose Depp), um casal apaixonado que vive na Alemanha. Thomas é enviado para a Romênia para concluir uma transação imobiliária com o Conde Orlof (Bill Skarsgård), sem imaginar que seu cliente é um vampiro que deseja Ellen. Orlof manipula os acontecimentos para que ela aceite se casar com ele, sob a ameaça de destruir tudo o que ela ama caso recuse. A trama explora a luta psicológica de Ellen contra a influência maligna do conde.

Ellen, atormentada por sonambulismo e crises epilépticas, carrega uma conexão antiga com o sobrenatural, consequência de um pacto feito na infância. Manipulada por Orlof, ela perde a distinção entre sonho e realidade, ficando presa a um relacionamento abusivo e paranormal. Essa complexidade emocional é intensificada pela interpretação visceral de Lily-Rose Depp, que revela uma vulnerabilidade cativante e perturbadora.

O elenco se destaca com Aaron Taylor-Johnson como Sievers, amigo de Thomas que tenta proteger Ellen, e Willem Dafoe como um médico especialista em ocultismo. No papel de Orlof, Bill Skarsgård apresenta um vampiro grotesco e decadente, com bigodes e aparência putrefata, remetendo à estética dos antigos romenos. Para enriquecer sua atuação, ele aprendeu romeno antigo e treinou canto lírico para alcançar tons vocais macabros.

A atmosfera gótica do filme é potencializada pela escuridão sufocante, onde a iluminação restrita desafia o espectador a vislumbrar o terror escondido nas sombras. Esse ambiente claustrofóbico eleva a imaginação, criando um suspense psicológico raro. Eggers aproveita essa opacidade para construir uma tensão crescente, evitando sustos fáceis em favor de um medo que se infiltra gradualmente na mente do público.

O rigor técnico e a visão artística de Eggers consolidam sua versão de “Nosferatu” como um novo clássico do terror. Ao reviver o mito com autenticidade e inovação, ele cria uma experiência cinematográfica hipnotizante, que homenageia o expressionismo alemão sem cair na mera repetição estilística. Com sua narrativa perturbadora e uma estética cuidadosamente elaborada, Eggers reafirma sua maestria em transformar o medo em arte.

Filme: Nosferatu
Diretor: Robert Eggers
Ano: 2024
Gênero: Terror
Avaliação: 10/10 1 1
★★★★★★★★★★