Thriller que revolucionou o gênero,  filme com Clint Eastwood com 97% de aprovação no Rotten Tomatoes está na Netlix e é obra-prima Divulgação / Paramount Pictures

Thriller que revolucionou o gênero, filme com Clint Eastwood com 97% de aprovação no Rotten Tomatoes está na Netlix e é obra-prima

Isolada no coração da Baía de São Francisco, Alcatraz nunca foi apenas uma prisão; era um símbolo de confinamento absoluto, um bastião impenetrável onde a esperança de fuga parecia um delírio. Durante os 29 anos em que funcionou como penitenciária federal, incontáveis detentos tentaram escapar de seus muros gélidos, mas a ilha parecia engolir qualquer tentativa de liberdade. Entretanto, em 1962, três prisioneiros desafiaram essa reputação em um plano tão meticuloso quanto audacioso. “Fuga de Alcatraz” (1979) revisita esse episódio com precisão quase documental, transformando a história real em um thriller de contenção e resiliência.

Sob a direção de Don Siegel, a narrativa se constrói sobre a tensão silenciosa do cárcere, onde cada olhar e gesto parecem carregados de subtexto. Clint Eastwood encarna Frank Morris, o arquiteto da fuga, com uma economia de movimentos que reflete sua inteligência e frieza estratégica. O antagonismo discreto, mas onipresente, é materializado na figura do diretor da prisão, interpretado com gelidez por Patrick McGoohan. O elenco de apoio, que inclui Fred Ward e Jack Thibeau como os irmãos Anglin, adiciona camadas à trama, consolidando a sensação de um ambiente onde a vigilância incessante e a desesperança coexistem.

Gravado na própria ilha, o filme captura a aridez e a opressão do espaço, convertendo Alcatraz em um personagem vivo e sufocante. A fotografia de Bruce Surtees se apoia em sombras cerradas e uma paleta desbotada para acentuar o caráter inóspito do presídio. O silêncio cortante e os ruídos abafados da rotina prisional são amplificados pela trilha sonora minimalista de Jerry Fielding, que potencializa a angústia dos detentos sem recorrer a estridências. Cada elemento estético está a serviço de uma imersão total, tornando o espectador um cúmplice involuntário do plano de fuga.

O roteiro de Richard Tuggle, inspirado no livro de J. Campbell Bruce, evita artifícios narrativos óbvios, optando por um suspense que se constrói na minúcia da preparação. O filme detalha com meticulosidade quase cirúrgica o engenhoso método de escavação, o processo de confecção das réplicas de cabeças humanas para ludibriar os guardas e a coreografia milimetricamente calculada dos movimentos dos prisioneiros. Em vez de sequências de ação convencionais, a tensão se acumula na espera, na incerteza, no compasso cadenciado das escolhas feitas sob extremo risco.

O desfecho é um dos elementos mais potentes da obra. Em consonância com a realidade, o filme não oferece respostas definitivas sobre o destino dos fugitivos. A incerteza permeia o encerramento, transformando a ausência de uma conclusão explícita em um dos seus maiores trunfos. Esse mistério remanescente ressoa na imaginação do público, elevando a discussão para além do evento histórico e questionando os limites entre aprisionamento e liberdade.

“Fuga de Alcatraz” transcende a reconstrução de um episódio intrigante para se afirmar como uma reflexão sobre persistência e engenhosidade humanas. Sem recorrer a sentimentalismos ou espetacularização, Siegel constrói um filme que ressoa na mente do espectador muito depois dos créditos finais. É uma obra que não apenas narra uma tentativa de fuga, mas também examina o desejo inquebrantável pelo inatingível e o que estamos dispostos a arriscar para conquistá-lo.

Filme: Fuga de Alcatraz
Diretor: Don Siegel
Ano: 1979
Gênero: Biografia/Drama/Thriller
Avaliação: 10/10 1 1
★★★★★★★★★★