“La Casa de Papel” não é apenas uma série sobre um assalto magistral; é um estudo profundo sobre emoções humanas, motivações sociais e o poder da narrativa. Criada por Álex Pina, a trama começou como uma minissérie exibida na Antena 3, na Espanha, mas alcançou o mundo quando a Netflix adquiriu seus direitos em 2016, reformulando sua estrutura e ampliando a história. O enredo acompanha um grupo de assaltantes liderados pelo enigmático Professor (Álvaro Morte), cuja genialidade estratégica desafia as autoridades enquanto ele manipula o jogo psicológico não apenas com os reféns, mas também com seus próprios cúmplices. O objetivo? Invadir a Casa da Moeda Real da Espanha para imprimir bilhões de euros, não apenas como um roubo monumental, mas como um ato de resistência contra o sistema econômico opressor.
A narrativa se destaca por transcender o gênero de assalto ao misturar ação eletrizante com dramas humanos complexos. O uso de flashbacks, saltos temporais e a narração envolvente de Tóquio (Úrsula Corberó) criam uma estrutura não linear que mantém o espectador em constante estado de alerta. Ao mesmo tempo, a série aborda questões sociais com uma sagacidade rara, questionando as normas de poder e autoridade enquanto explora as motivações individuais de cada personagem. A música “Bella ciao”, um hino antifascista, não foi escolhida por acaso; ela carrega o simbolismo de rebelião que ressoa com a essência dos personagens, tornando-se um marco cultural além das telas.
O sucesso estrondoso das duas primeiras partes levou a Netflix a expandir o universo da série, dando origem a uma segunda fase que introduziu novos personagens e locações internacionais, como Panamá, Tailândia, Itália e Portugal. O cenário evoluiu para um novo golpe, desta vez no Banco da Espanha, aumentando as apostas e os desafios. Não era apenas sobre imprimir dinheiro, mas sobre questionar o próprio sistema financeiro. A série mergulhou em dilemas éticos profundos, explorando lealdade, amor e sacrifício em meio a perseguições policiais intensas e confrontos militares de tirar o fôlego.
A construção de personagens foi um dos pontos altos de “La Casa de Papel”. O carisma do elenco é indiscutível, com figuras como Berlim (Pedro Alonso), cuja moral ambígua e carisma sedutor desafiam convenções, e Nairóbi (Alba Flores), cuja força emocional inspirou uma legião de fãs. Rio (Miguel Herrán), com sua vulnerabilidade juvenil, trouxe um toque humano à narrativa, enquanto a complexa relação de amor e ódio entre o Professor e a inspetora Raquel Murillo (Itziar Ituño) adicionou camadas de tensão emocional. Cada personagem tem um propósito definido e um arco de desenvolvimento que mantém a história pulsante, equilibrando humor, drama e tensão de maneira magistral.
Em 2018, a série recebeu o Emmy Internacional de Melhor Série Dramática, solidificando seu status como um fenômeno global. Nas redes sociais, “La Casa de Papel” se tornou um tema constante de discussão, gerando memes, teorias e análises detalhadas. A narrativa não apenas capturou o público, mas também influenciou a cultura pop contemporânea, provando que o entretenimento em língua espanhola possui um apelo universal. Em 2021, a saga principal chegou ao fim com a quinta temporada, dividida em dois volumes, entregando um desfecho explosivo e emocionalmente carregado que fez jus à complexidade da trama. Contudo, o legado não parou por aí.
A expansão do universo de “La Casa de Papel” continuou com “La Casa de Papel: Coreia” em 2022, que trouxe uma perspectiva culturalmente adaptada à realidade da Península Coreana, mantendo a essência do enredo original, mas com novas dinâmicas e personagens. Em 2023, o spin-off “Berlim” explorou a vida de um dos personagens mais cativantes da série, adicionando camadas à mitologia criada por Álex Pina. Com isso, o universo narrativo se manteve vibrante, expandindo o alcance e a influência cultural da história.
Hoje, em 2025, “La Casa de Papel” permanece como um ícone cultural. Seu impacto vai além do entretenimento, inspirando movimentos sociais e consolidando o poder das produções internacionais na era do streaming. O enredo que mescla ação intensa com profundas reflexões sociais continua a reverberar na cultura pop. A série não apenas contou a história de um assalto magistral, mas desafiou as convenções narrativas e redefiniu a forma como o público global se conecta com personagens imperfeitos e emocionantemente humanos. Seu legado é um testemunho do poder transformador da ficção bem elaborada.
Série: La Casa de Papel
Criador: Álex Pina
Ano: 2017–2021
Gêneros: Ação/Crime/Drama/Thriller
Nota: 9