Às vezes, é preciso atravessar continentes para redescobrir quem realmente somos. Mudanças geográficas, no entanto, não garantem que as dúvidas fiquem para trás; pelo contrário, podem desenterrar questões ainda mais desafiadoras. Para quem se sente perdido na juventude, poucos lugares acenam com tantas promessas de renovação quanto a bucólica Itália, palco de “La Dolce Villa”. Contudo, sob a aparência idílica, Mark Waters constrói uma trama cheia de conflitos internos e dilemas universais, onde a paisagem serena contrasta com tensões emocionais profundas. O tom cômico que permeia o filme suaviza as complexidades humanas que vão das disputas de gerações aos questionamentos que não respeitam idade, trazendo à tona dúvidas incômodas e inevitáveis.
A jovem Olivia, de ascendência italiana, abandona a vida americana para recomeçar em Montezara, um vilarejo que tenta rejuvenescer vendendo casarões decadentes por um euro. A escolha pela antiga casa de Mario Rabugento revela-se um desafio caro e trabalhoso, enquanto segredos arquitetônicos renascentistas emergem sob camadas de reformas mal feitas. Seu pai, Eric, um chef aposentado, surge inesperadamente na cidade, reacendendo as tensões familiares enquanto tenta protegê-la de suas próprias decisões. O roteiro entrelaça o esforço de renovação da casa com a necessidade de consertar uma relação quebrada, apoiando-se em personagens coadjuvantes cativantes. Francesca, a prefeita local, vê na chegada de Olivia a esperança de revitalizar a cidade, enquanto o trio de nonni na praça central traz leveza e humor ao filme. Waters explora a nostalgia e o choque cultural com habilidade, usando a ambientação como espelho dos conflitos pessoais.
Com um desfecho que foge do previsível, “La Dolce Villa” desafia o modelo tradicional das comédias românticas, ainda que tropece na inconsistência emocional de Olivia, cujo dilema entre o campo e a cidade permanece sem grande evolução. Mesmo assim, o diretor triunfa ao integrar a cidade ao enredo, fazendo de Montezara um personagem à parte. As figuras locais, especialmente as espirituosas Antonias, oferecem os momentos mais memoráveis, eclipsando o casal principal. A química entre Maia Reficco e Scott Foley se desgasta à medida que os estereótipos se acumulam, culminando em um desfecho que não consegue capturar a magia de sua inspiração felliniana. Ao final, resta a sensação de um conto agridoce sobre a busca por pertencimento.
★★★★★★★★★★