Acabou de chegar à Netflix: um romance feito para desacelerar e apreciar os pequenos momentos da vida Divulgação / Universal Pictures

Acabou de chegar à Netflix: um romance feito para desacelerar e apreciar os pequenos momentos da vida

A nostalgia é uma arma poderosa, especialmente nas comédias românticas, onde o charme de outrora parece ter se perdido em fórmulas previsíveis. “Ingresso para o Paraíso” tenta reviver essa magia ao reunir George Clooney e Julia Roberts, contando com o carisma inegável da dupla para sustentar um roteiro que, no entanto, carece de originalidade e profundidade. O filme recorre ao apelo emocional do público, mas não oferece nada de novo para justificar sua existência.

A trama segue David (Clooney) e Georgia (Roberts), ex-cônjuges que se unem para impedir o casamento impulsivo de sua filha, Lily (Kaitlyn Dever), com Gede (Maxime Bouttier), um agricultor de algas em Bali. Apesar do potencial para diálogos espirituosos e conflitos cômicos, o filme se contenta com situações previsíveis e soluções fáceis, eliminando qualquer senso de risco ou surpresa. A narrativa se desenrola como um catálogo de clichês, onde cada piada parece ensaiada e cada conflito se resolve sem esforço real.

O maior problema não é apenas a previsibilidade, mas a falta de ousadia no roteiro. Clooney e Roberts compartilham uma química confortável, mas seus personagens estão presos em diálogos rasos e piadas mornas. A dinâmica entre os dois é superficial, falhando em resgatar a faísca que já demonstraram em trabalhos anteriores. O charme do casal protagonista não é suficiente para carregar o filme quando a história não oferece nada além de nostalgia reciclada.

A relação central entre Lily e Gede é ainda mais problemática. A trama espera que o público acredite em um amor repentino o suficiente para justificar o abandono de uma carreira promissora. No entanto, o romance é raso, sem desenvolvimento emocional convincente. A decisão de Lily parece um artifício narrativo, enfraquecendo o conflito central e deixando o espectador sem motivos para torcer pelo casal. A superficialidade na construção do relacionamento faz com que o “encontro fofo” pareça mais um capricho do roteiro do que um momento genuíno.

O cenário paradisíaco de Bali é explorado como um cartão-postal sem vida, funcionando mais como propaganda turística do que como um elemento narrativo significativo. As tradições culturais são tratadas de maneira superficial, sem nenhum interesse em explorar a riqueza local de forma autêntica. Isso resulta em um contraste estéril entre o exotismo visual e a falta de profundidade do enredo, deixando o filme sem uma identidade própria.

Outro desperdício notável é a personagem Wren (Billie Lourd), a amiga engraçada de Lily, cuja energia vibrante poderia ter acrescentado camadas ao humor do filme. No entanto, ela é reduzida ao estereótipo de alívio cômico, sem desenvolvimento narrativo significativo. O talento de Lourd é subutilizado, ressaltando ainda mais a falta de ousadia do roteiro em explorar personagens secundários que poderiam enriquecer a história.

No fim, “Ingresso para o Paraíso” representa uma oportunidade perdida de revitalizar o gênero das comédias românticas. Ao reunir Clooney e Roberts, o filme tinha o potencial de criar uma narrativa espirituosa e envolvente, mas escolhe o caminho seguro da nostalgia sem substância. O roteiro opta por reciclar fórmulas desgastadas, sem entregar diálogos afiados ou conflitos emocionais genuínos. A falta de coragem para inovar transforma a experiência em um déjà-vu monótono, deixando um gosto amargo de superficialidade.

O filme ilustra um problema maior nas comédias românticas contemporâneas: a confiança exagerada no carisma dos astros em detrimento de uma boa história. Clooney e Roberts têm presença de tela suficiente para segurar o interesse inicial, mas nem mesmo seu talento é capaz de compensar um roteiro que se recusa a ousar. No final, “Ingresso para o Paraíso” acaba preso em uma fórmula que não faz jus ao legado de seus protagonistas, comprovando que nostalgia sem frescor é apenas uma lembrança esquecível.

Filme: Ingresso para o Paraíso
Diretor: Ol Parker
Ano: 2022
Gênero: Comédia/Drama/Romance
Avaliação: 9/10 1 1
★★★★★★★★★